17 de abril de 2019, o dia em que os estudantes tiveram a palavra

Evocação da Crise Académica reúne várias iniciativas num programa conjunto entre a UC, AAC e CMC. Muitos foram os que quiseram vir assistir à Sessão na Sala 17 de Abril, no Departamento de Matemática.

17 abril, 2019≈ 4 mins de leitura

“1969 foi um ano de confiança no futuro e de vontade de mudar”. A 17 de abril de 1969, Alberto Martins era presidente da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC). No meio da inauguração do edifício das Matemáticas, na presença das mais altas patentes do Estado Novo, o então estudante declarou: “Em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra, peço a palavra”. O resto é história.

Passados 50 anos, Alberto Martins e muitos antigos estudantes e dirigentes da época voltaram a entrar na sala que agora tem o nome desse mesmo dia, no Departamento de Matemática. “Sou quem sou e ao olhar para o jovem que estava ali no meio, há 50 anos atrás, vejo a distância. Nós tínhamos um País e tivemos de dar a volta ao destino. E demos. Com emoção, com racionalidade, com criatividade, com transgressão”, recorda Alberto Martins. “Não houve uma voz que se levantou. Houve uma voz que pediu a palavra em nome de toda a Academia”.

“O vosso exemplo deve ser recordado para sempre”, declarou o Reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão. “Queremos honrar a história e unir a Academia e a cidade em torno dos ideais de abril”, acrescentou. Desejos partilhados também pelo presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Manuel Machado recordou que “foi em Coimbra, na UC, que se deu a maior manifestação estudantil em Portugal de que há memória”. Para o autarca, “o povo, o País, pedia a palavra e não mais parou até que lha deram”.

O “ato de coragem que ficou marcado na história e memória de todos os estudantes” foi o que levou, nas palavras do atual presidente da DG/AAC, Daniel Azenha, à Revolução de 25 de abril, cinco anos mais tarde.

Comemorações dos 50 anos da Crise Académica de 1969

A meio da cerimónia Décio Sousa, presidente da Assembleia Magna da AAC em 1969, ecoando o que aconteceu a 17 de abril de 1969, pediu também a palavra. O antigo estudante da UC recordou a assembleia de 16 de abril, “onde se puderam manifestar todas as opiniões”. Para Décio Sousa, também nesse momento, na véspera do dia que ia ficar para a história, os estudantes deram “uma verdadeira lição de civismo e democracia”.

As comemorações dos 50 anos da Crise Académica de 1969 foram ainda marcadas pela inauguração de um conjunto escultórico, da autoria de Carlos Ramos, que evoca a Operação Flor, e o descerramento de uma placa comemorativa da efeméride, no edifício sede da AAC.

Até 17 de outubro continuam, por toda a cidade, várias iniciativas de comemoração dos 50 anos da Crise Académica. A programação completa pode ser encontrada aqui.

 

Marta Costa e Karine Paniza
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