Descobertos na Sé Nova de Coimbra documentos da Companhia de Jesus com mais de 250 anos

Durante o seminário “Visto de Coimbra – O Colégio de Jesus entre Portugal e o Mundo”, Margarida e Carlota Miranda vão dar a conhecer os documentos e o processo de estudo de que estão a ser alvo, bem como mostrar algumas fotografias.

05 maio, 2017≈ 4 mins de leitura

© UC | Ana Zayara

Foram achados na Sé Nova de Coimbra vários documentos inéditos relacionados com a expulsão da Companhia de Jesus, que vão do século XVI ao século XVIII. A descoberta ocorreu durante as obras de restauro e limpeza dos altares da Sé Nova e os documentos estão a ser estudados pela Universidade de Coimbra (UC).

Trata-se de «uma descoberta singular, oculta durante mais de 250 anos. Foram encontrados dois códices, um conjunto de cartas e uma bolsa com embrulhos cozidos a pano e identificados com o nome de “António Vasconcelos e os títulos dos escritos”», revela Margarida Miranda, investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC).

O acervo encontrado, que está em processo de inventariação e em setembro começará a ser digitalizado, inclui «documentos fundacionais do séc. XVI, de Inácio de Loyola, de São Francisco Xavier, de João de Polanco, cartas dirigidas ao mestre Simão Rodrigues, ao provincial e ao reitor do Colégio de Coimbra», conta Margarida Miranda, adiantando ainda que há um manuscrito do Padre António Vieira, «muito raro e singular e que vai despertar muito interesse, e um códice com teses de filosofia ligadas ao padre Francisco Soares Lusitano».

O último grupo de textos, já do séc. XVIII, acrescenta a investigadora da FLUC, é um conjunto de cartas. A correspondência ativa e passiva «parte do espólio pessoal do jesuíta a quem devemos o acervo, António de Vasconcelos», e corresponde a memórias sobre o cativeiro, o cerco, e a expulsão da Companhia de Jesus, «que ele conseguiu salvar da biblioteca e esconder ali».

«A Companhia de Jesus foi sujeita a um processo de cancelamento de memória, consequente da propaganda pombalina. Mas creio que tanto a UC como a Sé Nova estão a saber valorizar este património e estão muito atentos à possibilidade de reescrever a história a partir das fontes, não dos vencedores, mas dos vencidos», nota a especialista da UC que, conclui, «descobrir este tesouro intacto é como a execução de última vontade testamentária dos condenados ao exílio».

Os documentos vão ser apresentados hoje, 5 de maio, pelas 10h50m, no Museu da Ciência, no âmbito do seminário “Visto de Coimbra – O Colégio de Jesus entre Portugal e o Mundo”. O evento, que se prolonga até sábado, tem como objetivo «contar a história da Companhia de Jesus e do edifício do Colégio de Jesus», de acordo com a diretora do Museu da Ciência, Carlota Simões.

Saiba mais sobre o evento aqui.

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