“A Universidade deve ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade”

Práticas de cidadania, associadas ao acolhimento dos estudantes e à participação política e cultural nas universidades, foram tópico de debate na UC.

22 fevereiro, 2018≈ 5 mins de leitura

© UC | Paulo Amaral

Várias personalidades ligadas ao Ensino Superior, à cultura e ao movimento associativo em Coimbra juntaram-se para debater os “Desafios para a Universidade de Coimbra (UC): Rituais de acolhimento e práticas de cosmopolitismo”. A questão da “liberdade” dos estudantes e da comunidade académica como um todo esteve em debate no evento promovido pela Comissão de Cultura, Cidadania e Desporto do Conselho Geral da UC no Auditório da Reitoria. O reitor honorário da Universidade de Lisboa (UL), António Sampaio da Nóvoa, citou Bernardino Machado durante o painel “Universidade e práticas de cidadania”.

“A Universidade deve ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade”, afirmou o também Prémio UC 2014. Para Sampaio da Nóvoa, “liberdade significa participação e envolvimento cívico” e as universidades não têm oferecido “condições sociais e institucionais” para o exercício da cidadania. “Presas” em dinâmicas espaciais e discursos por parte dos docentes que “inibem o envolvimento cidadão”, o orador considera que a reformulação do espaço das universidades “é essencial para que tenhamos cidadania como prática e não como discurso”.

Desafios para a Universidade de Coimbra:

António Sampaio da Nóvoa propôs ainda uma aproximação da comunidade estudantil para a investigação académica. De acordo com o reitor honorário da UL, a educação e a investigação dentro da academia funcionam hoje em “lógicas paralelas”. As atividades extracurriculares foram também destacadas pelo reitor da UC, João Gabriel Silva. Segundo o reitor, a diversa oferta desportiva e cultural em Coimbra é fundamental e grande parte do crescimento pessoal e envolvimento cívico dos estudantes acontece através dessas atividades. A atual revisão dos estatutos e do regulamento das atividades culturais tem como objectivo incentivar a participação académica em iniciativas da oferta extracurricular.

as instituições precisam alargar o seu discurso de acessibilidade

Quanto à praxe académica enquanto ritual de acolhimento, o reitor destacou o percurso da UC nos últimos dez anos. “A evolução nesse sentido foi muito positiva ao longo deste período”. Hoje, “praticamente todos” os departamentos têm atividades de acolhimento alternativas à praxe, assinala.

Presente no evento esteve ainda a secretária de estado do Ensino Superior, Maria Fernanda Rollo, que revelou a preocupação existente com os dois terços de jovens que se encontram fora das universidades. O “acesso condicionado” imposto pelas instituições de ensino foi a causa indicada pela responsável para o fenómeno. “Vamos ter que fazer um esforço grande, e as instituições precisam alargar o seu discurso de acessibilidade”, afirmou. Também como proposta de intervenção sugeriu uma “maior cumplicidade com a comunidade académica”.

Também o docente da Faculdade de Economia da UC, José Reis, teceu algumas críticas ao sistema de Ensino Superior, ao assinalar a “ansiedade” das universidades em se afirmarem como “instituições por conta própria”. Quanto à mentalidade de valores culturais e de cidadania, que, no entender de José Reis, têm mudado para um “imaginário económico”, o docente acredita que ainda há espaço para que se “possa constituir o caminho de uma luta para o pluralismo universitário”. Já o presidente da Associação Portuguesa de Sociologia, José Teixeira Lopes, apresentou dados sobre a queda da participação cívica dos jovens, em particular a comunidade académica que, de acordo com o docente da Universidade do Porto, se justificam com “a fraca oferta de práticas de envolvimento das universidades”. Uma agenda cultural que “não se resuma à praxe” é, para José Teixeira Lopes, imperativa, e “só com opções há liberdade”.

Durante o dia debateram-se ainda temas como a “mobilização estudantil, cidade e cultura” e “acolhimento dos estudantes, rituais estudantis e mobilidade cosmopolita”.

 

Vittorio Aranha, estudante da FLUC
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