Estudo internacional alerta para os impactos do aquecimento global nas comunidades de fungos de água doce

A investigação, já publicada na revista Science of the Total Environment, envolveu 32 investigadores de 31 instituições distribuídas por 18 países.

11 fevereiro, 2019≈ 4 mins de leitura

© UC | Cristina Pinto

O aquecimento global pode induzir mudanças nas comunidades de fungos de água doce, especialmente em comunidades dominadas por espécies adaptadas a ambientes mais frios ou a ambientes com oscilações mínimas de temperatura, e provocar uma alteração gradual nas teias alimentares modificando os ciclos biológicos e geoquímicos e comprometendo os serviços do ecossistema e do bem-estar humano, alerta um estudo internacional liderado pela investigadora Seena Sahadevan, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Este é o primeiro estudo realizado à escala global sobre a diversidade de fungos aquáticos em ribeiros de floresta distribuídos ao longo de um gradiente latitudinal (do equador em direção aos polos), baseado em técnicas moleculares de nova geração (Illumina NGS).

o número de espécies de fungos varia consoante a latitude, isto é, o número de espécies é maior nas regiões temperadas de média latitude

Ao contrário dos micro-organismos do solo, cujos padrões de distribuição das espécies pelo globo estão bem definidos, a distribuição em larga escala dos micro-organismos aquáticos, apesar do seu valor ecológico, não tem tido a mesma atenção.

Os ecossistemas de água doce têm um papel relevante no ciclo global do carbono, inclusive os pequenos ribeiros de floresta em que a principal fonte de carbono reside nas folhas e detritos vegetais que caem sobre o leito e aí se decompõem. Este processo de decomposição é conduzido pelos fungos aquáticos: ao libertarem substâncias para digerir as folhas também as tornam apetecíveis para consumidores invertebrados, e por sua vez estes servirão de alimento a predadores como ninfas de libélula e peixes, dinamizando as relações tróficas.

A investigação, já publicada na revista Science of the Total Environment, envolveu 32 investigadores de 31 instituições distribuídas por 18 países, designadamente: Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China (Hong Kong), Equador, Espanha, Estados Unidos da América, França, Guiné, Índia, Itália, Japão, Malásia, Noruega, Portugal – incluindo os Açores – e Nova Zelândia.

A partir da análise das comunidades de fungos de 19 rios, distribuídos pelos dois hemisférios, a equipa verificou «que o número de espécies de fungos varia consoante a latitude, isto é, o número de espécies é maior nas regiões temperadas de média latitude, como por exemplo Portugal e Espanha. Este padrão de distribuição diverge do padrão global, pois enquanto o número de espécies de plantas e animais diminuem quando nos afastamos do equador, os fungos aquáticos diminuem perto do equador e dos polos», relata Seena Sahadevan.

A investigadora do MARE sublinha que «outro ponto relevante do estudo foi verificar que a composição das comunidades de fungos difere claramente com a temperatura da água, tendo sido registados três grupos distintos independentemente do hemisfério onde se encontravam.»

 

FCTUC (Cristina Pinto)
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