Jardim Botânico recebe estruturas pétreas da antiga igreja de São Bento

04 fevereiro, 2019≈ 4 mins de leitura

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Mais de 80 anos depois da sua demolição, o que resta (estruturas pétreas esculpidas) da antiga igreja de São Bento volta ao seu recinto original: a cerca de São Bento, área que hoje corresponde ao Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (JBUC). O regresso deste material – que até aqui estava alojado na Escola Secundária José Falcão – permitirá “a salvaguarda, a conservação e o estudo criterioso destes elementos”, fiéis representantes das preferências arquitetónicas da Coimbra do primeiro quartel do século XVII, sublinha Maria de Lurdes Craveiro, professora de História de Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que tem acompanhado o processo.

O regresso às origens do material pétreo da igreja de São Bento acontece no seguimento das obras de requalificação da Escola Secundária José Falcão. Os ‘restos’ da igreja – demolida em 1932, quando era parte do Liceu José Falcão, então alojado no Colégio de São Bento, contíguo ao Jardim Botânico – ‘migraram’ com a escola secundária para a Avenida D. Afonso Henriques. Agora, sob proposta da Direção Regional de Educação do Centro, e com acordo e acompanhamento da Direção Regional de Cultura do Centro, “estão de regresso à cerca dos beneditinos, para ser inventariados e estudados, para que posteriormente a Universidade, em conjunto com especialistas e as entidades competentes, defina um plano de valorização deste património”, refere o diretor do JBUC, António Gouveia.

Os trabalhos de deslocação das pedras do espaço da Escola Secundária José Falcão para o Jardim Botânico não estão ainda concluídos. Mas o interesse do acervo pétreo – que corresponde aos caixotões que definiam a abóbada da capela-mor da igreja e a outros registos decorativos que acompanhavam os arcos de entrada das capelas laterais – é evidente. “O regresso do material pétreo da igreja de S. Bento ao espaço do Colégio de São Bento reveste-se de particular importância. A partir do processo de ‘musealização’ destas estruturas, a Universidade tem a capacidade de proteger um espólio rico que lhe está associado e que mostra a especificidade do trabalho artístico em Coimbra que, no primeiro quartel do século XVII [a igreja foi sagrada em 1634] e ao arrepio do que se passava no resto do país, mantinha a sedução pela decoração arquitetónica e pela cultura humanista do Renascimento”, descreve Maria de Lurdes Craveiro.

Além de se tornar um “objeto de eleição para compreender” essa época histórica, o regresso às origens do que resta da igreja de São Bento “vem também estimular a capitalização do Jardim Botânico, que agora se vê preenchido com a memória acrescida de outro tempo, construída a partir da articulação entre a Universidade e a Ordem de São Bento”, conclui a docente de História de Arte.

 

Rui Marques Simões
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