Os micróbios que vêm do fundo mar para minerar Tungsténio

Um estudo internacional, liderado pela Universidade de Coimbra, permitiu descobrir três micróbios com elevada capacidade de minerar tungsténio, um metal crítico para a indústria e para o ambiente.

05 março, 2018≈ 4 mins de leitura

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Um estudo internacional, liderado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), permitiu descobrir três micróbios com elevada capacidade de minerar tungsténio, um metal crítico para a indústria e para o ambiente, também conhecido por volfrâmio.

Estes três micróbios foram selecionados a partir de amostras recolhidas no fundo do mar, a 600 quilómetros a sul dos Açores, em zonas de vulcões submarinos onde a quantidade de tungsténio é 100 vezes maior em comparação com outros ambientes. Das várias experiências e testes realizados, dois micróbios da espécie Sulfitobacter dubius revelaram uma notável capacidade de tolerar e acumular tungsténio.

um passo importante para a exploração de novas estratégias biológicas para recuperar tungstênio de ambientes naturais ou antropogénicos

Esta descoberta, publicada na revista Systematic and Applied Microbiology, representa «um passo importante para a exploração de novas estratégias biológicas para recuperar tungstênio de ambientes naturais ou antropogénicos (causados pela ação do homem). A partir daqui, é possível desenvolver biossensores e biofiltros alternativos aos métodos atuais que, embora cumpram os limites legais, não são completamente eficazes, para obter e/ou recuperar metais críticos», nota Paula Morais, coordenadora dos projetos PTW e BioCriticalMetals.

Iniciado há um ano, o projeto BioCriticalMetals junta 28 investigadores e empresas ligadas ao setor mineiro da Argentina, Portugal e Roménia, com o objetivo de «fornecer bioferramentas inovadoras, amigas do ambiente e vantajosas do ponto de vista económico, para serem utilizadas na indústria mineira, transformando os resíduos (tóxicos) em matéria-prima, numa perspetiva de economia circular», afirma Paula Morais.

Depois de estudados os mecanismos genéticos dos micróbios descobertos, os investigadores manipularam algumas das suas propriedades, através de processos biotecnológicos, por forma a aumentar a capacidade de acumulação de tungsténio. A fase seguinte passa por produzir sistemas destes microrganismos, isto é, cultivar os micróbios em laboratório e desenvolver as bioferramentas que serão posteriormente testadas em ambientes diversificados, nomeadamente em minas.

O tungstênio tem importância industrial e económica crítica à escala mundial, sendo utilizado nos mais diversos setores. A crescente escassez e o fornecimento a preços cada vez mais elevados exigem a procura de soluções inovadoras para garantir um abastecimento sustentável deste metal pesado.

Os estudos estão enquadrados nos projetos PTW e BioCriticalMetals, financiados pelo Portugal 2020, Compete 2020, FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

 

Cristina Pinto
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