Projeto SMS quer prevenir a depressão nos jovens e promover a saúde mental

09 outubro, 2020≈ 5 mins de leitura

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Uma equipa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC) vai iniciar, este mês, em duas escolas do Agrupamento Figueira Norte, na Figueira da Foz, um plano de intervenção que visa a promoção da saúde mental, a prevenção da depressão e o combate ao estigma social e ao insucesso escolar associados.

A intervenção vai ser aplicada na Escola Básica Pintor Mário Augusto e na Escola Secundária Cristina Torres, no âmbito do projeto “SMS”, acrónimo de “Sucesso, Mente e Saúde”, financiado pelo programa Portugal Inovação Social e pela Câmara Municipal da Figueira da Foz.

O “SMS” traduz-se numa intervenção de “banda larga”, isto é, envolve não só todos os alunos, como também os seus pais e encarregados de educação, professores e outros profissionais das escolas e ainda técnicos da comunidade que estão diretamente relacionados com estabelecimentos de ensino, como, por exemplo, técnicos da autarquia e de centros de saúde.

Além disso, inclui uma forte vertente tecnológica, nomeadamente a plataforma web “SMS eSaúde”, desenvolvida com a colaboração de investigadores do Departamento de Engenharia Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

A intervenção é constituída por dois programas, um destinado aos jovens e outro aos educadores. O programa “SMSjovens” é constituído por 10 sessões, aplicadas uma por semana, numa lógica de aprendizagem combinada (presencial e remota). Em cada sessão, com a duração de uma hora, são trabalhadas e treinadas competências baseadas na terapia cognitivo-comportamental, que se têm revelado eficazes na prevenção e tratamento de muitos problemas de saúde mental na adolescência, designadamente o mindfulness (atenção plena) e autocompaixão. As 10 sessões que compõem o programa “SMSeducadores” visam promover competências de comunicação, de resolução de conflitos e de suporte emocional, entre outras, de modo a impactar positivamente na qualidade da relação com os adolescentes.

«Por exemplo, trabalha-se a relação entre pensamentos, comportamentos e emoções, são dinamizadas atividades de lazer para melhorar o estado de humor, treinam-se aptidões de comunicação positiva e de resolução de problemas», esclarece a coordenadora do projeto, Ana Paula Matos.

«Trata-se de uma intervenção preventiva, multinível e baseada em evidência científica. O projeto SMS tem a sua origem num projeto anterior, desenvolvido por esta mesma equipa, onde foram testados programas de prevenção da depressão, para adolescentes e pais, em 27 escolas portuguesas», acrescenta a docente da FPCEUC e investigadora do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitiva-Comportamental (CINEICC).

Por seu turno, Rosário Pinheiro, outra das investigadoras do projeto, sublinha que «a característica de “banda larga” torna o projeto inovador. Por outro lado, é uma intervenção que aposta fortemente na vertente tecnológica. A plataforma web “SMS eSaúde”, destinada não apenas aos participantes no programa, mas também à população em geral, contém conteúdos relacionados com saúde mental (p. ex., vídeos, jogos, áudios sobre mindfulness e compaixão, fóruns, bancos de informação sobre linhas de apoio e serviços de acompanhamento psicológico)».

Além disso, sustentam Ana Paula Matos e Rosário Pinheiro, «vamos deixar raízes, ou seja, as escolas que vão ser sujeitas a esta intervenção ficarão capacitadas para poderem continuar a realizar a intervenção SMS».

Nos programas “SMS” e nos workshops “SMS Express” sobre literacia e saúde mental, «incluem-se ainda estratégias de educação pelos pares através das quais se capacitam, como “mind coachers”, adolescentes e educadores, com o objetivo de estes impactarem noutros adolescentes e educadores, sensibilizando para a necessidade de cuidar da saúde mental, de procurar, receber e dar ajuda e de combater o estigma associado à doença mental», explicitam.

A equipa, que também integra José Joaquim Costa e Mário Zenha-Rela, explica ainda que os jovens que vão participar na intervenção “SMS” «não têm que ter qualquer tipo de problema relativamente à sua saúde mental. Antes pelo contrário, o objetivo é aumentar a sua resiliência, prevenir a depressão e outras psicopatologias, e sensibilizar para a importância da promoção da saúde mental».

Cristina Pinto
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