Raras e Discretas, conhecer um pouco da história das primeiras mulheres da Universidade de Coimbra

Ciclo de conferências realiza-se a 26 de abril, no Arquivo da UC, a partir das 14 horas e tem como objetivo mostrar a história e as estórias das primeiras mulheres na UC, nos séculos XIX e XX.

19 abril, 2017≈ 5 mins de leitura

© UC | Marta Costa

“Discreta, honesta e de acordo com o seu sexo”, esta era uma das exigências feitas às primeiras mulheres que ousaram entrar na universidade.

“Raras e Discretas” é um ciclo de conferências que tem como objetivo dar a conhecer a história e as investigações realizadas sobre o acesso das mulheres ao ensino superior, em particular à Universidade de Coimbra (UC), nos séculos XIX e XX. Analisando ainda a forma como era encarada, em períodos anteriores, a relação das mulheres com o saber, trajetórias individuais, académicas e profissionais, bem como a presença feminina no processo de construção do conhecimento científico e da sua divulgação.

“Confesso que me sinto devedora destas primeiras raras e discretas porque, de facto, elas avançaram num contexto difícil e complicado”, ressalta a coordenadora científica do projeto, Irene Vaquinhas. “Em muitos depoimentos e testemunhos, estas estudantes eram consideradas pedantes e mulheres anti-naturais porque ousaram estudar e ter outras valências de caráter intelectual que não eram comuns nas mulheres da sua época”. Uma destas mulheres foi Domitilla de Carvalho. “A primeira estudante da Universidade de Coimbra que fez um curso completo entrou no ano letivo de 1890/1891”, explica Irene Vaquinhas.

A partir dos anos 60, a evolução acontece muito rapidamente. A viragem, para Irene Vaquinas, ocorre em 1983/1984 já que, no que diz respeito aos alunos da UC, é a partir deste ano que o número de alunas suplanta o de alunos na Universidade.

O público vai poder contar ainda com uma exposição documental organizada pelo Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC) e Galeria Académica do Museu da Ciência da UC.

Organizado pelo Centro de História da Sociedade e da Cultura (CHSC) da UC, as conferências têm lugar a 26 de abril, no AUC a partir das 14 horas. A iniciativa está inserida na 19.ª Semana Cultural da UC.

A primeira estudante:
Domitilla Hormizinda Miranda de Carvalho (1871-1966), natural do concelho da Feira, inscreveu-se, depois de solicitar autorização às autoridades académicas, no curso de Matemática da Universidade de Coimbra, no ano letivo de 1891-1892, o qual concluirá em 1894, terminando, nos anos de 1895 e de 1904, respetivamente, as licenciaturas de Filosofia e de Medicina. De 1891 a 1896, Domitilla manteve-se como a única aluna da Universidade de Coimbra e só a partir do ano letivo de 1896-1897 passaria a contar com outras companheiras nas salas de aula Foi diretora (depois reitora) do 1.º liceu feminino português – o Liceu Maria Pia, de Lisboa, renomeado mais tarde Liceu Maria Amália. A par deste cargos, exerceu também medicina, bem como funções administrativas, integrando grupos de decisão em matéria educativa.
A primeira docente
Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925), de nacionalidade alemã, mas portuguesa, por casamento, entrou ao serviço da Universidade de Coimbra no decurso da I República. O Governo provisório da I República, através do então ministro da Instrução Pública, António José de Almeida, nomeia-a, em Junho de 1911, por distinção, professora da cadeira de Filologia Germânica da Faculdade de Letras de Lisboa. Nunca chegou a exercer funções nesta faculdade, por residir na cidade do Porto. Pediu, então, a sua transferência para a recém-criada Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pedido que foi aceite. Em Dezembro de 1911, é festivamente recebida na sala dos capelos, celebrando-se, assim, o ingresso da 1ª mulher no ensino universitário em Portugal. Tinha 60 anos de idade e lecionou cursos de Língua e Literatura Alemã, inclusive depois da sua jubilação, até ao ano do seu falecimento (1925). Alcançou grande prestígio científico, lançou os alicerces para a criação de um Instituto Alemão em Coimbra e deixou uma vasta obra. Demonstrou também ao longo da sua vida grande simpatia pelos movimentos em favor da emancipação da mulher e, muito em especial, pela instrução da mulher portuguesa, dado o atraso registado no país.
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