A idade como ponto de partida para a arte

“O poente tem duas ressonâncias muito significativas: remete para o declinar do dia – e quando falamos de pessoas, falamos do declinar da idade. Mas também é um espetáculo de beleza natural. E é isso que procuramos transmitir: que esta fase da vida pode se caraterizar por uma grande beleza”. O diretor, dramaturgista e encenador João Maria André começa assim por explicar o espetáculo "Quero dançar o poente".

A proposta da Bonifrates ‒ Cooperativa de Produções Teatrais e Realizações Culturais para a 24.ª Semana Cultural da UC sobe a palco a 9 de março, com repetição a 11 de março. “É sobre pessoas idosas, sim, mas com grande experiência de vida, com lições de vida e um grande contributo a dar à sociedade”, acrescenta João Maria André.

“Vivemos num tempo em que aumenta a esperança média de vida das pessoas, as pessoas reformam-se e ficam com muito tempo”, adianta ainda o responsável. De acordo com João Maria André, esse tempo “não pode ser vivido apenas como tempo de transição para a última carruagem da vida”. Na preparação para a peça de teatro, a produção do espetáculo deparou-se com “muita gente que ainda sabe como aproveitar a vida, para criar e recriar projetos”. “A essa inventividade e criatividade podemos chamar, metaforicamente, uma forma de dançar o poente”, acrescenta João Maria André.

A peça, em cena no Teatro Estúdio da Bonifrates, quer “sensibilizar as pessoas, não apenas as idosas e também o poder político e associações sociais, que a maior idade não se deve ocupar apenas com atividade recreativas que muitas vezes não são suficientemente estimulantes”, refere João Maria André. “É preciso encarar o problema da maior idade com outros olhos, vendo as pessoas nesta idade da vida como pessoas, que continuam a amar, que são amadas, que continuam a criar e a contribuir de uma maneira muito ativa para a sociedade”, acredita.

A iniciativa conta ainda com um evento convergente, que tem lugar logo após o espetáculo de 11 de março. O objetivo passa por promover um debate entre especialistas na área do envelhecimento, como neurocientistas, psicólogos e filósofos, as pessoas que ajudaram a construir o próprio espetáculo e o público. Ao mesmo tempo, a organização promete ainda momentos pontuais de ligação com a poesia. “Sempre que for oportuno poderá surgir um poema para ilustrar uma ideia ou um ponto de vista”, conclui João Maria André.