Biblioteca Geral apresenta um tesouro do século 17: Carta de Cristóvão Borri S.J. para Dom André de Almada

O ciclo "Tesouros da BGUC" é organizado pela Liga dos Amigos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e apresentou na sessão uma carta do astrónomo jesuíta Cristóvão Borri para Dom André de Almada.

KP
Karine Paniza
MC
Marta Costa
10 maio, 2023≈ 2 mins de leitura

Maia do Amaral e Carlota Simões apresentam Carta de Cristóvão Borri S.J. para Dom André de Almada

© UC | Marta Costa

Foi por mero acaso, na Biblioteca Joanina, dentro da obra "Tabulae Frisicae lunae-solares quadruplices..." de Nicolaus Mulerius, de 1611, que se encontrou uma Carta de Cristóvão Borri S.J. para Dom André de Almada. O documento do século XVII, foi a proposta para mais uma sessão dos “Tesouros da BGUC”. “Não é um tesouro óbvio”, explica o diretor adjunto da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), António E. Maia do Amaral. “Não foi comprado em leilão, não foi herdado, foi um tesouro que nós próprios identificámos, que estava dentro de um livro que não foi aberto durante 400 anos”.

Para o responsável, considerar a carta um tesouro pode parecer arriscado, mas é “justificável, porque há uma relação muito grande entre esta carta, este livro e esta biblioteca”. “É uma história completa que temos aqui e uma maneira diferente de obter tesouros, que é identificar nos nossos próprios fundos coisas que são valiosas, que têm sentido e que podem interessar às pessoas”.

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Eis o que pode fazer:

A carta foi apresentada numa sessão do ciclo "Tesouros da BGUC", com a presença do diretor adjunto, para falar sobre a materialidade da obra, e da docente Carlota Simões, para o contéudo histórico, cultural e científico.

Ver o lado pessoal de uma descoberta científica que está a ser construída é um dos principais atrativos da carta, do ponto de vista da docente do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Carlota Simões. “Nós vemos o entusiasmo dele [Cristóvão Borri] a construir uma teoria”. “Nunca temos acesso” a esse tipo de informação, acrescenta a responsável. Normalmente, o que há é “acesso apenas ao produto acabado, ou seja, ao livro e não a construção”.

Outro facto curioso sobre o documento é que não está datada, adianda Carlota Simões. Há apenas uma informação de que foi escrita a uma segunda-feira. “Sabemos mais ou menos quando é que Borri andou por Coimbra, mas não sabemos a data”, indica. No entanto, há uma referência que “Marte e o Sol estão juntos em Libra” e, através das referências astronómicas e astrológicas, Carlota Simões conta que, como “Marte junto com o Sol só acontece de dois em dois anos e Marte com Sol em Libra é um fenómeno muito raro, então sabemos que o dia exato que a carta refere é 23 de setembro de 1626”.

Mais informações aqui.

Como foi encontrada?


Com a aquisição de uma câmara de anoxia, em 2016, a BGUC passou a dispor de um equipamento que permite a preservação dos livros através da sua higienização evitando, por exemplo, a propagação de fungos, sem utilizar material químico. Com o procedimento de limpeza profunda de cada livro, iniciou-se a recolha de todos os "objetos" estranhos encontrados nessas obras. Desde então, a BGUC reuniu centenas de envelopes com "fragmentos de papéis, efémera vários e lixos diversos", indica A. E. Maia do Amaral, o diretor adjunto da BGUC, responsável por esta iniciativa.

E foi no processo de limpeza de um exemplar do livro de Nicolaus Mulerius, que pertenceu à biblioteca do Colégio Real de São Paulo, que se encontrou uma folha de papel "dobrada na forma habitual de uma carta do século XVII, autógrafa em caligrafia humanística descuidada, tinta sépia em papel feito à mão, de origem francesa".

O documento encontrado refere-se à "primeira grande reforma científica" (Banha de Andrade) em Coimbra, no século XVII. Borri, um astrónomo jesuíta milanês, deu aulas na cidade e aqui fez observações astronómicas, as quais depois publicou em livro, em Lisboa. Cristóvão Borri (ou Bruno) foi o introdutor em Portugal do sistema astronómico de Tycho Brahe, que condenava o conceito das esferas celestes rígidas. A carta dá uma imagem clara do seu empenhamento reformista e também da escassez de livros matemáticos em Coimbra.

(informação da BGUC)

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