Ciclo Pasolini – 40 Anos, no Teatro Académico de Gil Vicente

16 janeiro, 2015≈ 6 mins de leitura

© Bruno Simão

No mês de janeiro, o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) homenageia Pier Paolo Pasolini, um dos autores mais controversos do nosso tempo, no ano em que se assinala os 40 anos da sua morte.

No próximo dia 22 de janeiro, pelas 21h30, Albano Jerónimo, Ana Bustorff, João Lagarto, entre outros, interpretam o texto de Pier Paolo Pasolini, encenado por John Romão, “Pocilga”, integrado no Ciclo PASOLINI – 40 ANOS.

Em “Pocilga”, Pasolini faz um retrato metafórico da decadência da degradação humana (Alemanha dos anos 60), alastrada pela sociedade capitalista, que destila a história de um homem cuja paixão é causa de escândalo. O amor, o sagrado e o político são as principais dimensões desenvolvidas na estreia mundial em língua portuguesa de um dos maiores textos de Pasolini.

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JOHN ROMÃO
O encenador português John Romão (1984, Lisboa) tem trabalhado no campo do teatro contemporâneo e performance. A sua procura de novas formas estéticas e a sua experimentação, fazem com que se torne uma referência no teatro contemporâneo. John Romão estudou Teatro – Ator/Diretor na Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) de Lisboa. Fez o curso internacional de teatro Nouvelle  École des Maîtres, dirigido por Rodrigo García, e estudou Estéticas e Teorias da Arte Contemporânea na Sociedade de Belas Artes (Lisboa). A sua formação inclui o contacto com artistas do teatro, dança e performance: Jan Fabre, Romeo Castellucci, Wim Vandekeybus, Vera Mantero, João Fiadeiro, Mónica Calle, Patrícia Portela, entre outros.  Em teatro trabalhou como ator e cocriador com Paulo Castro (Stone/Castro, AUS), Romeo Castellucci (Socìetas Raffaello Sanzio), Rodrigo García (La Carnicería Teatro), Jorge Andrade (Mala Voadora), Tiago Rodrigues (Mundo Perfeito), Jorge Silva Melo (Artistas Unidos), Nilo Gallego, Francisco Salgado, Maria João Machado, Marcos Barbosa e Harvey Grossman, e com os coreógrafos Jean-Paul Bucchieri e Mariana Tengner Barros. John Romão recebeu vários prémios, tais como: Prémios Novos 2014  –  Teatro; Jovens Criadores Nacionais 2012  –  Teatro; Emergentes 2011  –  Novos Diretores de Teatro, atribuído pelo Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa); Almada Terra das Artes e da Criatividade 2010, pelo seu percurso no teatro. A sua peça CADA SOPRO de Benedict Andrews foi nomeada para Melhor Peça de Teatro de 2013 pela revista Time Out Lisboa, assim como a sua peça HORROR em 2012, e a sua encenação de AGAMÉMNON de Rodrigo García foi considerada uma das melhores peças de 2013 pelo jornal Expresso.
PIER PAOLO PASOLINI
(Bolonha, Itália, 5 de março de 1922 – Óstia, Itália, 1-11-1975) foi um escritor, dramaturgo, poeta e cineasta italiano. Era filho de Carlo Alberto Pasolini, militar de carreira, e Susanna, professora do primeiro grau em Casarsa della Delizia, Friuli, norte da Itália. Terminada a Segunda Guerra Mundial, Pasolini foi o intelectual mais controverso da Itália. Em 1949, em Bolonha, foi expulso do sistema educativo por sua condição de homossexual e também excluído do Partido Comunista. Antes de ficar famoso como cineasta, foi poeta e novelista. Entre as suas obras mais conhecidas estão “Meninos da Vida”, “Petróleo” e “Uma Vida Violenta”, onde o tema central é o indivíduo que leva a vida à margem da sociedade.
Mais tarde, trabalhou como jornalista e roteirista para diretores como Fellini, entre outros. Seguiram-se os primeiros longas, “Accattone” (1961) e “Mamma Roma” (1962), ainda claramente influenciados pelo neo-realismo italiano, cujo foco central são histórias com personagens das classes mais humildes. Os seus filmes posteriores revelaram toda a sua sensibilidade e delicadeza; alguns deles abordam também temas clássicos e antigos como por exemplo, “Medéia”, em 1969, com Maria Callas. O seu último e mais provocador filme foi “Salò” ou “Os 120 dias de Sodoma” (1975), onde Pasolini adaptou livremente uma obra de conteúdo semelhante ao do Marquês de Sade (“Les 120 journées de Sodome” ou “L’école du libertinage”), ambientando-a durante o curto período de existência da República fascista de Salò, estado fantoche da Alemanha nazista.
Quando aparece o seu primeiro filme, “Accattone” (1961), Pasolini já tinha atrás de si um longo passado como argumentista de Fellini e Bolognini, entre outros, e um enorme prestígio como poeta (L’Usignolo della Chiesa Cattolica, 1943-49; La Meglio Gioventù, 1954; La Cenere di Gramsci, 1957; La Religione del mio Tempo, 1961) e romancista (Ragazzi di Vita, 1955; Una Vita Violenta, 1959).
Nos 15 anos que se seguiram, até à sua morte em 1975, realizou cerca de vinte filmes, apresentando muitas vezes perspetivas controversas que lhe valeram inúmeros processos judiciais, traduziu e escreveu peças de teatro (Orgia, Pocilga, Calderón, Affabulazione, Pílades, Bestia da Stile), publicou vários volumes de poesia e foi muito ativo como crítico (de política, teatro, cinema, literatura) em vários diários e revistas, atividade que deu vida a muitas publicações, parcialmente póstumas (Empirismo Eretico, 1972; Scritti Corsari, 1975; Descrizioni di Descrizioni, 1979), e o que o estabeleceu como uma das vozes mais importantes e polémicas do panorama político e intelectual italiano do séc. XX.
Grande ativista nos debates que movimentaram a classe artística italiana, acossada pelo conservadorismo político nos anos 1960 e 70, ele usou caneta, câmara e voz para se posicionar. Merece destaque, ainda, os seus estudos para a promoção da língua de onde era natural, o friulano, na qual escreveu vários poemas. Pasolini distinguiu-se como um poeta, jornalista, filósofo, linguista, romancista, dramaturgo, cineasta, jornalista, colunista, ator, pintor e figura política. Na madrugada de 2 de novembro de 1975, o seu corpo é encontrado morto junto à praia Ostia, na periferia de Roma. A resposta à pergunta que mais se ouve ainda hoje, “Quem matou Pasolini?”, continua a ser envolta num mistério e é motivo de investigação, tendo sido reaberta em 2011.
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