Equipa do CNC-UC conquista bolsa para investigar novos alvos terapêuticos para a obesidade a partir da microbiota

A equipa vai investigar a interação entre os microrganismos que habitam o intestino e os recetores de adenosina, que pode ajudar a tratar várias doenças, como a obesidade.

07 junho, 2022≈ 5 mins de leitura

Da esquerda para a direita: Ermelindo Leal, Eugénia Carvalho, Teresa Gonçalves, Rodrigo Cunha, André Lázaro, Lisa Rodrigues.

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O projeto de investigação "Mycobiota homeostasis under the regulation of adenosine receptors as pivotal players in obesity", de uma equipa liderada por Teresa Gonçalves, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), foi o vencedor da 3.ª edição da Bolsa Nacional para Projetos de Investigação, atribuída pela Biocodex Microbiota Foundation. O estudo, financiado com um prémio de 25 mil euros, vai ser desenvolvido ao longo de ano e meio e pode vir a encontrar novos alvos terapêuticos não só para a obesidade, como para as doenças a ela associadas.

Segundo Teresa Gonçalves, há cada vez mais evidências a sustentar que os microrganismos que vivem no intestino (microbiota) contribuem para a nossa saúde. O que não se conhece com maior profundidade é como é regulado este conjunto de microrganismos. “Este projeto pretende descobrir se um dos controladores pode ser o sistema de modulação operado pela adenosina, cuja manipulação controlaria a microbiota intestinal para prevenir ou mitigar a obesidade”, explica.

A professora da Universidade de Coimbra sublinha que a obesidade e as doenças associadas são complexas, com causas diversificadas e de difícil tratamento. Para além dos fatores genéticos e pessoais, como a qualidade da alimentação ou o exercício físico, existem outros fatores que podem contribuir para estas patologias. Um desses fatores é a população de microrganismos do intestino – a microbiota intestinal –, essencial para definir como processamos os alimentos ingeridos.

A microbiota humana corresponde a todos os microrganismos que colonizam o organismo e com os quais convivemos diariamente: bactérias, vírus, fungos, leveduras e protozoários. A sua composição difere de acordo com as superfícies colonizadas, ou seja, existe a microbiota cutânea, a vaginal, a urinária, a respiratória, a da cavidade oral e a microbiota intestinal, anteriormente denominada como flora intestinal. A micobiota é a componente fúngica da microbiota.

A maioria dos estudos sobre microbiota intestinal têm-se focado nas bactérias do intestino. Já as populações de fungos (micobiota), que também fazem parte da microbiota intestinal, têm sido menos estudadas, embora haja já alguns dados sobre a sua influência em doenças crónicas, como a obesidade, a diabetes ou doenças inflamatórias. “A interação da microbiota com o nosso organismo envolve recetores na superfície das células de cada indivíduo, que podem estar na origem de algumas destas morbilidades. Esta interação pode levar ao agravamento ou, pelo contrário, à melhoria dos sintomas”, refere a também investigadora principal do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra.

Entre esses recetores estão os recetores de adenosina que, entre outras funções, podem, segundo acredita a equipa científica, ser capazes de controlar a micobiota intestinal no idoso. Os recetores de adenosina (A2A e A2B) são como sensores que existem em todas as células humanas para identificar sinais de stress ou esforço – a adenosina. Estes recetores têm particular importância no controlo da inflamação, prevenindo o dano excessivo de tecidos. Os sensores podem também contribuir para o controlo da obesidade. “O que iremos definir é o papel destes sensores no processo de inflamação e se, através deles, podemos equilibrar a micobiota e, consequentemente, a inflamação. E, desta forma, promover uma normalização do metabolismo intestinal e, ao mesmo tempo, prevenir a obesidade”, esclarece Teresa Gonçalves.

O tema escolhido para os projetos candidatos à edição 2021/2022 da Bolsa Nacional para Projetos de Investigação foi a "Microbiota e ABCD – Doença Crónica Baseada na Adiposidade”. Os projetos foram avaliados por um júri independente, constituído pelos quatro membros do Comité Científico da Biocodex Microbiota Foundation em Portugal, que escolheram o trabalho da equipa liderada pela investigadora Teresa Gonçalves.