Manuscritos musicais “em silêncio” há centenas de anos voltam restaurados à BGUC

19 maio, 2021≈ 4 mins de leitura

© UC | Marta Costa

É uma coleção que inclui dezasseis códices do século XVII, conhecidos por cartapácios. São, muito provavelmente, provenientes do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Têm estado “em silêncio” há centenas de anos, e atualmente servem de alimento de trabalho a grupos musicais incubados no projeto Mundos e Fundos do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra (CECH/UC), como o Bando de Surunyo ou Capella Sanctae Crucis. São manuscritos musicais que têm vindo a ser restaurados e retornam à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) para investigação, consulta e não só.

O trabalho desenvolvido pela investigação dos cartapácios pode hoje também ser ouvido, pela mão do projeto Mundos e Fundos que, através de concertos, mostra “como é que esta música seria ouvida há centenas de anos”, por exemplo na Sé Velha. De acordo com o Vice-Reitor para a Cultura e Ciência Aberta, Delfim Leão, tem havido “um esforço de viagem no tempo que é permitido por este trabalho de investigação e que permite conjugar um conjunto de frentes de atuação”.

“Coimbra tem uma riquíssima tradição de polifonia sacra da Época Moderna, com destaque para as coleções da Sé e do Mosteiro de Santa Cruz. É preciso salvaguardá-las e impedir que a usura dos tempos e a incúria dos homens apaguem essa memória cultural e estética de incalculável valor”, alerta o diretor da Biblioteca Geral da UC, João Gouveia Monteiro. O responsável acredita que “é chegada a hora de restituir à música o lugar que ela outrora ocupou no cerimonial académico e no programa de estudos da UC”. Ao recuperar “algumas dezenas de manuscritos que, depois de devidamente microfilmados e guardados, se destinam a ser estudados por docentes, por investigadores e por estudantes da UC”, resulta não apenas “um enriquecimento inestimável do nosso conhecimento musical e a respetiva difusão à escala planetária”. De acordo com João Gouveia Monteiro, é disponibilizada ainda a “possibilidade de vermos devidamente interpretadas, em pleno século XXI, algumas das peças que os mais notáveis compositores do Renascimento (como D. Pedro de Cristo, m. 1618) ofereceram ao Mundo”.

Conservados na Biblioteca Geral da UC, os manuscritos musicais são restaurados em Cuenca, Espanha, no atelier especializado DELTOS. Um processo demorado que se assemelha à construção de um puzzle. Da lista de 18 manuscritos musicais restaurados até agora, numa primeira fase, foram trabalhados 16 códices [chamados cartapácios do século XVII: MM 49, 50, 51, 227, 228, 229, 232, 233, 234, 235, 236, 237, 238, 239, 240, 243]. Numa segunda fase, “mais concentrada em manuscritos do século XVI”, revela Paulo Estudante, “foram restaurados os MM 6 e MM 34”. Com o apoio da Fundação Cupertino de Miranda seguiram para restauro os códices MM 33 e MM 36.

Manuscritos Musicais BGUC 02 MC2021

Os manuscritos são restaurados num atelier especializado em Cuenca, Espanha. Foto: UC | Marta Costa

Para a segunda fase do projeto, iniciam-se os trabalhos de restauro de mais dois manuscritos musicais, do século XVI (MM6 e MM34).

Saiba mais sobre os trabalhos do projeto Mundos e Fundos em https://www.uc.pt/cech/projetos/mundos-fundos

Marta Costa e Karine Paniza
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