Cientistas criam plataforma de gestão unificada para os diferentes tipos de sensores da Internet das Coisas

25 maio, 2021≈ 5 mins de leitura

© Gerd Altmann

Inicialmente, a Internet das Coisas (IoT, na sigla inglesa) dependia essencialmente de sensores reais (físicos), mas nos dias de hoje usa dados de outros tipos de sensores, nomeadamente virtuais e sociais, o que torna a gestão extremamente complexa. Para ultrapassar este problema, uma equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveu uma plataforma que permite a gestão unificada de ambientes heterogéneos que suportam a IoT.

Mais do que Internet das Coisas, atualmente temos «“Internet of Everything”, ou seja, internet de tudo, pois é internet das coisas, mas é também internet de pessoas e internet de software. Há uma série de sensores de fontes diversas, heterogéneas, que recolhem gigantescos volumes de informação que permitem medir, entre outras variáveis, temperatura, humidade e poluição atmosférica, mas também movimentos humanos, ambientes industriais, especialmente na indústria 4.0, etc.; por exemplo, os nossos telemóveis são dispositivos repletos de sensores que, sem nos apercebermos, medem tudo e mais alguma coisa», explica Fernando Boavida, coautor do estudo, publicado na revista científica IEEE Internet of Things.

Assim, o paradigma atual da IoT, que permite ligar a internet a diferentes tipos de sensores e ambientes, de modo a recolher dados em larga escala, exige sistemas que façam a gestão da informação, isto é, sistemas que permitam controlar e monitorizar dados, independentemente do tipo de sensor.

Havendo sensores de vários tipos – sensores reais, sensores virtuais (de software) e sensores sociais, também designados sensores humanos, pois extraem informação colocada pelas pessoas nas redes sociais –, a questão de partida para o desenvolvimento da plataforma foi, segundo o docente e investigador do Departamento de Engenharia Informática da FCTUC, «Como podemos gerir de forma eficiente e eficaz diferentes tipos de fontes de dados de IoT?».

Tirando partido de vários estudos sobre IoT que tem vindo a realizar ao longo de mais de uma década juntamente com Jorge Sá Silva, do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FCTUC, a equipa partiu à procura de soluções que fossem capazes de dar resposta à questão.

«A partir de tecnologias amplamente adotadas em IoT para gerir sensores reais, com destaque para a tecnologia FIWARE, desenvolvemos uma solução informática capaz de gerir diferentes tipos de sensores e analisar quais os melhores protocolos de gestão em termos de desempenho», conta Fernando Boavida, esclarecendo que, na prática, «pegámos em protocolos e tecnologias utilizadas para gerir sensores reais, ajustando para sensores virtuais e sociais».

Posteriormente, o protótipo do sistema desenvolvido foi testado com voluntários, estudantes da Universidade de Coimbra e de uma escola politécnica do Equador, durante um semestre, tendo demonstrado a viabilidade da abordagem proposta. Os resultados obtidos representam mais um passo na evolução da Internet das Coisas: «com as mesmas ferramentas, consegue-se fazer uma gestão unificada de vários tipos de sensores, isto é, de ambientes heterogéneos da Internet das Coisas. É uma plataforma que permite gerir de forma eficaz os dados, independentemente do tipo de sensor – físico, virtual e social», refere Fernando Boavida.

Por exemplo, se pensarmos numa smart city (cidade inteligente), «onde é possível inferir a qualidade de vida numa cidade, temos de gerir um sem número de fatores: ambientais, como temperatura, poluição, humidade, etc.; fatores mais complexos, como a facilidade de deslocação dentro da cidade; e temos de perceber se as pessoas estão satisfeitas. Neste exemplo, estão envolvidos diferentes tipos de sensores. Um sistema como o nosso permite gerir tudo isso de forma unificada», ilustra o professor da FCTUC.

A fase seguinte da investigação vai centrar-se na evolução dos sensores sociais, que são os que representam o maior desafio, porque a informação que é possível extrair é praticamente ilimitada. Em particular, a equipa de Fernando Boavida e Jorge Sá Silva vai explorar o processamento e análise dos dados extraídos das redes sociais. Ou seja, conclui Fernando Boavida, «pretendemos fechar o ciclo. Além de extrair informação das redes sociais, também queremos dar informação útil, fornecendo aconselhamento e dados que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas».

Cristina Pinto
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