Cientistas da UC conquistam Prémio Pfizer 2023 por investigação sobre a doença de Parkinson

A investigadora Sandra Morais Cardoso e o investigador Nuno Empadinhas lideraram um estudo que demonstrou uma relação direta entre o intestino e a doença de Parkinson, que está na base da atribuição do Prémio Pfizer 2023 de investigação básica aos cientistas.

15 novembro, 2023≈ 5 mins de leitura

Os cientistas da Universidade de Coimbra, Sandra Morais Cardoso e Nuno Empadinhas.

© Cristina Pinto

A docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), Sandra Morais Cardoso, e o investigador do CNC-UC, Nuno Empadinhas, foram distinguidos com o Prémio Pfizer 2023 de investigação básica. A distinção foi atribuída a um estudo liderado pelos cientistas que demonstrou uma relação direta entre o intestino e a doença de Parkinson.

Esta investigação foi uma das distinguidas na 67.ª edição dos Prémios Pfizer, o mais antigo galardão na área da Investigação Biomédica atribuído em Portugal, que visa apoiar a dinamização e fomentar a investigação biomédica no país. Este ano, o prémio distinguiu dois projetos: um projeto de investigação clínica e outro de investigação básica, no valor total de 60 mil euros.

A doença de Parkinson é uma doença multifatorial caracterizada por uma longa fase prodrómica que, frequentemente, inclui sintomas gastrointestinais. Foi recentemente encontrada uma correlação direta entre alterações do microbioma intestinal e o aparecimento e progressão da doença. Acredita-se que a exposição alimentar crónica à toxina de origem microbiana β-N-metilamino-L-alanina (BMAA), acumulada em certos alimentos, pode ser a causa da doença designada complexo ALS-parkinson-demência em populações específicas cuja dieta era rica nestes alimentos.

Através deste estudo, Sandra Morais Cardoso, Nuno Empadinhas e as suas equipas demonstraram que, quando ingerida de forma crónica, a toxina BMAA altera o microbioma intestinal, desencadeando um processo neurodegenerativo compatível com a doença de Parkinson. Isto é especialmente preocupante uma vez que esta toxina está presente e acumula em alguns alimentos de origem marinha, mas não é monitorizada pelas autoridades de saúde pública. Por outro lado, foi possível verificar que a toxina interfere diretamente com as mitocôndrias, organelos celulares essenciais, descendentes evolutivos de bactérias ancestrais.

Como explicam os cientistas, “observamos que a suplementação crónica da dieta de ratinhos com BMAA reduziu os níveis de um grupo específico de bactérias intestinais que regulam a homeostase imunitária especificamente na mucosa do íleo, levando a um aumento da inflamação intestinal, à perda da integridade da barreira intestinal e à agregação de alfa-sinucleína no tecido intestinal”. “A perda da barreira intestinal promoveu a inflamação sistémica e induziu a permeabilidade da barreira hematoencefálica, onde a disfunção mitocondrial e a ativação da imunidade inata induziram e potenciaram a inflamação do cérebro. Esta sucessão de eventos culminou na perda de neurónios dopaminérgicos do mesencéfalo e em disfunção motora semelhante à observada nos doentes de Parkinson”, acrescentam os investigadores.

Segundo os cientistas da Universidade de Coimbra, os resultados deste trabalho demonstram que a exposição crónica a BMAA pode desencadear uma sucessão de eventos que recapitulam a evolução da doença do intestino para o cérebro.

Além de Nuno Empadinhas e Sandra Morais Cardoso, colaboraram neste estudo os investigadores Ana Raquel Esteves, Mário Muñoz Pinto, Daniela Costa, Emanuel Candeias, Diana Silva, João Magalhães, Ana Raquel Santos, Ildete Ferreira, Susana Alarico e Igor Tiago.

Como refere o Diretor-Geral da Pfizer Portugal, Paulo Teixeira, “acreditamos que os trabalhos premiados desta edição, como os das edições anteriores, contribuem para a melhoria da vida das populações, reforçando que a saúde e a ciência têm de estar unidas na procura de novas soluções terapêuticas”.

O outro investigador português distinguido pelos Prémios Pfizer 2023 é Luís Graça, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM), que liderou uma investigação que revela que pessoas vacinadas e com infeção pelo vírus que causa a COVID-19 têm uma proteção duradoura contra uma nova infeção.

A cerimónia de entrega dos Prémios Pfizer 2023 contou com a presença do Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, da Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, Maria do Céu Machado, e do Diretor-Geral da Pfizer Portugal, Paulo Teixeira, e pode ser vista aqui.

Sobre os Prémios Pfizer


Os Prémios de Investigação Pfizer resultam de uma parceria entre a Pfizer e a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, com o objetivo de contribuir para a dinamização da investigação em ciências da saúde em Portugal. Instituídos em 1956, os Prémios Pfizer distinguem os melhores trabalhos de investigação básica e clínica, elaborados total ou parcialmente em instituições portuguesas por investigadores portugueses ou estrangeiros. Ao longo destes anos, os Prémios Pfizer foram atribuídos a mais de 700 investigadores, tendo sido premiados mais de 200 trabalhos. Desde o início, os Prémios Pfizer têm marcado de uma forma positiva a investigação que se faz em Portugal e afirmam-se como um incentivo aos jovens investigadores, projetando a sua carreira científica. Mais informações: www.pfizer.pt/a-nossa-ciencia/nossa-ciencia-apoio-a-investigacao/premios-pfizer.