Impacto da quebra nos bens não essenciais no contexto da atual pandemia é objeto de estudo do CeBER e da Universidade da Florida

14 maio, 2020≈ 7 mins de leitura

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Se os países tivessem uma quebra de 50% nos seus produtos não essenciais derivado à atual pandemia, como reagiria a economia desses países? Um estudo levado a cabo por investigadores do CeBER – Centre for Business and Economics Research da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e da Universidade da Florida responde a este exercício hipotético.

De acordo com João Pedro Ferreira, um dos autores do estudo e investigador na Universidade da Florida, “num cenário hipotético, o que queremos analisar é de que forma a quebra nos produtos não essenciais à escala global afeta diferenciadamente as 44 economias que nos propusemos avaliar”. “Foi a partir daqui que fomos procurar avaliar quais os impactos no país em termos de Valor Acrescentado Bruto (VAB) e avaliar qual o impacto sobre o comércio internacional”, acrescenta o também antigo aluno da FEUC.

Para o exercício intitulado “Os modelos Input-Output, a estrutura setorial das economias e o impacto da crise da COVID 19″, levado a cabo também pelos economistas do CeBER Pedro N. Ramos, Luís Cruz e Eduardo Barata,  foi usado o modelo World Input-Output Database (WIOD). O objetivo, segundo os investigadores, “é o de descortinar tendências, permitindo identificar quais os mais afetados pelo efeito da alteração do padrão global do consumo, nomeadamente em termos do Valor Acrescentado Bruto e do comércio internacional”. “Os resultados deste cenário indicam que o comércio mundial, no seu conjunto, contrairá em 33,1%”, adiantam, sendo que “nalguns países, as exportações cairão mais que as importações, deteriorando assim a balança comercial”. Tal facto significa, segundo o estudo, que os países “terão, no médio prazo, de reestruturar a sua economia, de modo a poderem encontrar outros produtos de especialização, que sejam capazes de exportar com sucesso”.

Quanto a conclusões, uma das principais é que “as economias estão todas elas interligadas” e só podemos olhar a economia de uma forma integrada, destaca João Pedro Ferreira. “Não são os países que consomem bens não essenciais que são afetados com a questão da Covid-19, muito pelo contrário”, refere, “em muitos casos podem ser os países que os produzem, ou que produzem produtos que acabam por ser consumidos para a fabricação desses produtos, os chamados produtos intermédios”.

Dessa forma, os países mais afetados são os que estão mais expostos ao consumo de bens essenciais e ao comércio internacional, que serve no fim para satisfazer a necessidade destes produtos, explica o investigador. “No fim, dos 44 países analisados, o nosso estudo conclui que a China, a Indonésia, Taiwan, e a Coreia do Sul estão entre os quatro dos cinco países mais afetados, porque estão altamente expostos ao comércio internacional”, salienta.

Na Europa, verifica-se que o país mais afetado é Malta, o que se justifica, segundo o estudo, por ser um país muito pequeno com “uma economia muito aberta e exposta ao comércio com o exterior”. “Neste cenário Portugal fica a meio da tabela e os países que são menos afetados acabam por ser a Grécia, Irlanda e a Dinamarca”, afirma João Pedro Ferreira.

Quanto aos setores mais afetados são logicamente aqueles que estão ligados aos bens não essenciais, tais como, transportes aéreos, vestuário e hotéis, restauração. “O que o nosso estudo mostra é que se esperam também contrações em setores como o comércio por grosso, comércio a retalho, ou até mesmo na venda de combustíveis, bem como em setores ligados ao sistema financeiro”, alerta o investigador.

 

E qual a situação em Portugal?

No caso do nosso país, o estudo refere que Portugal não é dos países que mais sofre com esta possível alteração no comércio internacional e com o choque nos produtos não essenciais. Ainda assim, o turismo sofre uma quebra substancial. “O turismo não é de todo um bem essencial e portanto é daqueles que a Covid e esta situação sanitária mais vai atingir”, diz João Pedro Ferreira. “Depois há setores, que estando ligados ao turismo, por exemplo o transporte aéreo, acabam por ser muito afetados”, acrescenta.

No cenário hipotético, verifica-se ainda uma quebra expectável na fabricação de automóveis, devido à redução da procura, e no setor têxtil, que completa os três setores industriais que acabam por ser mais afetados pela atual situação de pandemia.

“Segundo o nosso exercício Portugal acaba por cair muito menos que a Austrália, que Espanha ou que a Alemanha e, em parte, este resultado deve-se à nossa posição no comércio internacional e àquilo que é a nossa colaboração para a produção de bens essenciais versus a produção de bens não essenciais”, finaliza o investigador da Universidade da Florida.

 

João Pedro Ferreira explica tudo sobre o estudo:

 

 

Luís Cruz, investigador do CeBER, fala sobre o modelo World Input-Output Database (WIOD):

 

Consulte aqui o artigo Os modelos Input-Output, a estrutura setorial das economias e o impacto da crise da COVID 19  e os gráficos referentes ao estudo Gráficos: Redução do VAB (%), Redução das Exportações (%) e Variação do saldo da Balança Comercial (% do VAB)

 

 

Equipa responsável pelo estudo:

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Milene Santos
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