Bernardo, o estudante que pretende projetar o desporto adaptado universitário

09 dezembro, 2019≈ 5 mins de leitura

© UC | Paulo Amaral

Após quase 20 anos a lançar bolas de boccia, Bernardo Alexandre Lopes prepara-se para um lançamento bem mais arrojado: projetar o desporto adaptado universitário nacional ao nível mais alto possível. O estudante do 3.º ano de licenciatura de História da Arte (da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, FLUC), de 25 anos, é o presidente da recém-criada Pró-Secção de Boccia da Associação Académica de Coimbra e um dos exemplos da inclusão que a UC se tem esforçado por promover.

Publicada no Dia Nacional da Pessoa com Deficiência (9 de dezembro), esta é uma história exemplar de superação. Bernardo, estudante da Universidade de Coimbra desde 2017/18, não deixa que a paralisia cerebral espástica motora que lhe limita os movimentos lhe diminua a ambição. Ao afinco nos estudos, junta a vontade de promover o desporto adaptado universitário e, em particular, o boccia – modalidade paralímpica que pratica desde os seis anos (como atleta federado desde os 14) e em que o objetivo é colocar seis bolas coloridas mais perto de um bola-alvo (branca) do que as seis bolas do(s) adversário(s).

O aluno de História de Arte, com um percurso académico sem mácula (embora tenha de fazer todas as unidades curriculares por avaliação oral, “uma pressão devastadora”), é o dos mentores da primeira da primeira Secção de Desporto Adaptado da Associação Académica de Coimbra. E espera que esta Pró-Secção de Boccia – apoiada pela Universidade de Coimbra no âmbito do contrato-programa assinado com a AAC em julho e dando seguimento ao seu objetivo de promover uma cultura de inclusão no desporto – sirva para alavancar o desporto adaptado universitário na UC, incentivando ao lançamento de modalidades adaptadas (como futebol e ténis de mesa em cadeira de rodas ou disciplinas para deficientes visuais) nas outras secções desportivas da AAC. “Queremos ser pioneiro no desporto universitário adaptado a nível nacional”, frisa Bernardo Alexandre Lopes.

O estudante da FLUC, que colecionou um sem-número de títulos individuais e coletivos (incluindo um campeonato europeu de equipas, em 2014), tem na mira o regresso às competições de boccia, após largos meses de afastamento, após ter sofrido uma grave tendinite. Mas prefere afastar o foco de si. “Para além de eu poder voltar a competir, esta será uma forma de ajudar outros a poderem praticar desporto adaptado. A secção é para os estudantes, mas a nossa ideia é alargar este projeto à cidade”, explica.

Bernardo não esconde a motivação no terreno desportivo: “Senti que esta era a casa certa para desenvolver um projeto deste género”. Mas assume idêntica ambição no campo académico: mal termine a licenciatura de História de Arte, o objetivo é fazer a de História (aproveitando as unidades curriculares comuns a ambos os cursos) e, depois, seguir para o mestrado. 

Nesse percurso, uma importante ajuda pode vir de iniciativas como o (recentemente apresentado) projeto UC For All, um plano de promoção da igualdade de oportunidades e equidade no acesso e sucesso no ensino superior, com o foco na inclusão de estudantes com deficiência e necessidades especiais (com os eixos: acessibilidades físicas, acessibilidades digitais, promoção do sucesso académico e prevenção do abandono, e empregabilidade). “São projetos são muito bons e aconselho a mais iniciativas destas”, nota Bernardo. “A Universidade de Coimbra tem muito para me dar e eu tenho muito para dar à Universidade”, remata.

 

Rui Marques Simões
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