5.ª edição do Anozero - Bienal de Coimbra abre ao público a 6 de abril

Oito espaços de Coimbra recebem obras de 40 artistas que responderam ao apelo dos curadores Ángel Calvo Ulloa e Marta Mestre.

AC
Anozero – Bienal de Coimbra
04 abril, 2024≈ 7 mins de leitura

A 5.ª edição do Anozero - Bienal de Coimbra abre ao público no próximo dia 6 de abril. Oito espaços de Coimbra recebem obras de 40 artistas que responderam ao apelo dos curadores Ángel Calvo Ulloa e Marta Mestre.

A 6 de abril, o público é convidado a descobrir a cidade de Coimbra a partir do universo sugerido pelo tema da Bienal — O Fantasma da Liberdade. Os curadores selecionaram oito locais públicos em Coimbra, como, por exemplo, o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, fundado no século XVII; o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra/CAPC Sede e Sereia, polo de produção e difusão artística experimental desde os anos 1970 até à atualidade; a Estação Ferroviária de Coimbra-B, de entre outros. A proposta de descobrir a cidade a partir do universo sugerido pelo tema da Bienal é uma marca do projeto Anozero – Bienal de Coimbra desde 2015 e contribui para ampliar o imaginário da cidade, património mundial da UNESCO.

O percurso de inauguração de O Fantasma da Liberdade, que arranca na manhã do dia 6, leva os visitantes a conhecer histórias únicas e a testemunhar as transformações propostas para esses espaços. Dos 40 artistas participantes, destacam-se dez projetos concebidos especificamente para esta edição. Segundo os curadores Ángel Calvo Ulloa e Marta Mestre: “Arte no espaço público é diferente de arte num museu. Como os fantasmas, é inesperada, e nunca é indiferente. Por dialogar com as especificidades dos lugares, permite ser partilhada como símbolo de uma comunidade”.

A inauguração oficial dos espaços expositivos começa às 10 horas na Sede do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra e percorre os vários núcleos expositivos. O evento é aberto ao público.

Na Sede do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra/CAPC, a organização da Bienal e os curadores, que vão acompanhar todo o itinerário, abrem o espaço com obras de artistas tutelares da experimentação artística e literária da década de 1970, como Túlia Saldanha, Maria Velho da Costa, Clara Menéres (Portugal), Cildo Meireles e Regina Silveira (Brasil) ou Robert Filliou (França), ou artistas de gerações mais recentes, como Paula Siebra, Paulo Nazareth (Brasil), Bárbara Fonte (Portugal). Às 11 horas no Pátio das Escolas da Universidade de Coimbra, a inauguração prossegue com a primeira oportunidade de apreciar a obra Arapis, de Yonamine (Angola), uma das 11 obras comissionadas pela Bienal. A instalação evoca a condição de estrangeiro no mundo globalizado.

Às 12 horas, é a vez da Sala da Cidade, onde está exposta a obra de Teresa Lanceta (Espanha), artista galardoada, em 2023, com o prestigiante Prémio Nacional de Artes Plásticas do Governo espanhol. Aqui, terá lugar a sessão oficial com a presença do Reitor da Universidade de Coimbra (UC) e do Presidente da Câmara Municipal de Coimbra.

A abertura continua às 16h50, na Estação Ferroviária de Coimbra-B. Neste local, onde, em 1969, um grupo de estudantes se despediu dos colegas que partiam para a guerra colonial ao som do “Cantar de Emigração”, vai ser evocado esse momento, fazendo-se ecoar novamente o tema com poema da galega Rosalía de Castro, e celebrizado por Adriano Correia de Oliveira. Durante toda a duração da Bienal, o tema vai ecoar, à mesma hora, na estação de comboios.

O público pode, também a partir deste dia, visitar três espaços com obras comissionadas pela bienal O Fantasma da Liberdade: o Colégio das Artes, onde o coletivo NEG (Nova Escultura Galega) (Espanha) apresenta uma obra com a colaboração dos alunos da UC; o Jardim Botânico, onde está instalada a intervenção do artista Jeremy Deller (Inglaterra), vencedor do prestigiante Turner Prize em 2004; e o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra/CAPC – Sereia, com a instalação de Pedro G. Romero (Espanha), resultante de um mergulho entre arquivos fotográficos/cinematográficos e livrarias de segunda mão, e de um processo colaborações com a Tipografia Damasceno, historicamente vinculada à impressão artesanal e à atividade política em Portugal, e a Associação Trampolim (com mediação de Jorge Cabrera e Adriana Campos), com crianças e adolescentes ciganos do Parque Nómada, nos Campos do Bolão, para a reencenação de Auto das Ciganas, de Gil Vicente.

O itinerário segue para o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. Aqui, concentram-se as obras de 27 artistas, novas e outras pré-existentes, cujos tempos, ritmos e durações variáveis ultrapassam as expectativas estabelecidas do que é efémero, duradouro e permanente.

Destacam-se os projetos realizados in situ da dupla Patricia Gómez e María Jesús González (Espanha), Priscila Fernandes (Portugal), Daniel Barroca (Portugal), Ilídio Candja Candja (Moçambique), Filipe Feijão (Portugal/França), João Marçal (Portugal) e Susanne S. D. Themlitz (Portugal/Alemanha). Além dos projetos comissionados, este espaço, antigo Mosteiro das Clarissas e, posteriormente Quartel Militar, convida a descobrir, através da sua arquitetura labiríntica, mais obras dos seguintes artistas: Sandra Poulson (Angola), Carla Filipe (Portugal), Diego Bianchi (Argentina), Adam Pendleton (EUA), Aline Motta + Ricardo Aleixo (Brasil), Andrea Büttner (Alemanha), Bárbara Fonte (Portugal), Berio Molina (Espanha), Castiel Vitorino Brasileiro (Brasil), Davi Pontes + Wallace Ferreira (Brasil), Luís Cília (Portugal), Mauro Cerqueira (Portugal), Rosemarie Trockel (Alemanha), Yonamine (Angola) e Robert Filliou (França).

A festa de abertura tem lugar no Mosteiro. Às 19h30, haverá uma performance de Yinka Esi Graves (Inglaterra), em que a artista indaga a memória africana do flamenco. Intitulada Transposition 2, tem a duração aproximada de 35 minutos, e foi criada especificamente para o contexto da Bienal e da cidade de Coimbra. E a partir das 22 horas, a festa aberta a todos continua pela noite dentro, com Scúru Fitchádu (Cabo Verde/Portugal), batidas afrofuturistas que prestam homenagem direta à música cabo-verdiana dentro de uma furiosa estética punk em compasso anticolonial, e com Dj Diaki (Mali), que nos oferece a mistura atómica de sons tradicionais eletrificados (capazes de reavivar fantasmas!) que o lançaram com sucesso na Nyege Tapes.

Segundo Carlos Antunes, diretor da Bienal, “o dia de inauguração é um momento muito esperado. A cidade torna-se no cenário das ideias e dos sonhos dos artistas e dos curadores. Dando-lhes tempo, espaço e liberdade para trabalharem, oferecemos um contexto para repensar os parâmetros da produção, exibição, coleção e mediação da arte, com o objetivo de influenciar as políticas culturais”.

A inauguração do Anozero no mês de abril, mês dos 50 anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim ao fascismo e contribuiu para o fim da guerra colonial, proporcionou um ponto de partida da pesquisa, a qual se propôs ir mais além da ideia de celebração. Ao tensionar a expectativa relacionada com a revisitação desse momento crucial da história contemporânea portuguesa, O Fantasma da Liberdade trabalha com a ideia de que “a liberdade é um fantasma, uma espécie de presença inescapável e espectral” e, também, “aponta para um processo incompleto, a descrença numa verdade que se julgava assegurada. Vinca mais uma promessa do que uma existência real”, como referem os curadores.

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