Como é que os pais podem lidar com o stress do confinamento em casa durante a pandemia da COVID-19 e travar o risco de burnout parental?

A realidade das famílias é analisada pela docente da FPCEUC, Maria Filomena Gaspar, uma das mentoras no programa Anos Incríveis Básico para Pais em Portugal e investigadora do consórcio International Investigation of Parental Burnout.

08 abril, 2020≈ 5 mins de leitura

© UC | Paulo Amaral

“Entre dois a cinco por cento das famílias sofre um aumento de stress que pode contemplar, em si mesmo, um risco de burnout parental”, afirma a docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), Filomena Gaspar.

O termo tem vindo a ser utilizado cada vez mais no dia-a-dia, mas a docente admite que pode ainda ser difícil identificar e distinguir de, por exemplo, stress. Filomena Gaspar alerta que o burnout já se encontra “no domínio da doença mental” e, no caso do burnout parental, encontramos três características distintas que podem ajudar a identifica-lo: “o distanciamento emocional da criança, outro fator é a exaustão enorme, sentimento de esgotamento, sem energia. A terceira dimensão é que estes pais, quando pensam no que já foram e comparam com o que são, sentem que são péssimos pais, com baixa competência”. Para a docente, estes são os três componentes que indicam que “alguma coisa está a correr de forma menos boa na saúde mental e nestes casos é muito importante que as pessoas procurem ajuda”.

Com a situação atual, “o confinamento a casa vem amplificar a situação”, acredita Filomena Gaspar. “Está a pedir-se aos pais e mães que conciliem um conjunto de tarefas que aumentam o stress” e que normalmente não faziam ou faziam fora de casa. Desde trabalhar de casa, assumir o papel feito por outras instituições, como por exemplo as escolas – “pais e mães vão ter de ensinar e não apenas de educar”, até à dimensão de conjugalidade, onde a exigência e a coabitação são, em si, desafios que podem ser fatores de stress.

Filomena Gaspar defende ainda que há ainda o “desafio pessoal”. A docente acredita que “um dos maiores desafios dos pais em relação a este período é não perceber que eles também têm que cuidar deles mesmos. É não perceber que durante a rotina diária têm que encontrar um momento em que eles se cuidem, meia hora pelo menos”. “Se os pais não estiverem com saúde mental é impossível que deem saúde mental aos seus filhos”, acrescenta.

“Queremos ser super-pais, super-mães, super trabalhadores/as, super companheiros/as. Baixem o nível de exigência”, aconselha a docente da FPCEUC. “Não temos de ser perfeitos porque não há pais perfeitos. O nível de exigência que coloco a mim mesmo é algo que me pode colocar em risco”.

A forma de lidar com o stress e evitar o burnout parental é garantir um “equilíbrio entre os riscos e os recursos para lidar com os riscos”, afirma Filomena Gaspar. “As minhas caraterísticas individuais, as dos meus filhos, ter apoio da minha rede de contatos, que pode ser um amigo/a, um familiar, uma entidade empregadora que obrigue a cumprir o horário de trabalho e não trabalhar para além dessas horas”, são alguns exemplos de recursos ou fatores protetores que os pais podem ter para garantir uma boa relação entre pais e filhos.

A organização do dia das crianças e criação de uma rotina é também uma boa forma de garantir uma boa relação entre pais e filhos. “Cada família tem de conversar sobre quais as regras que melhor funcionam para si”.

Em resumo, Filomena Gaspar acredita que é importante “previsibilidade, regras claras e bem estabelecidas e divirtam-se com os vossos filhos”.

Os desafios do confinamento são muitos e, de acordo com Filomena Gaspar, evitar o burnout parental é possível. A docente e investigadora do Centro do Estudos Sociais da UC (CES/UC) adaptou para Portugal dez dicas de especialistas do International Investigation of Parental Burnout (IIPB), consórcio Internacional do qual é membro (ver artigo aqui: Como evitar o burnout parental).

Filomena Gaspar é uma das mentoras portuguesas do programa “Incredible Years (Anos Incríveis) para Pais”. Juntamente com Maria João Seabra, também docente da FPCEUC, e as outras mentoras portuguesas do programa, disponibilizaram algumas respostas para “manter a calma e apoiar os seus filhos durante a crise do Coronavírus”, a partir do artigo da autora dos Anos Incríveis, Carolyn Webster-Stratton (ver artigo aqui: Notas de Frigorífico: Coronavírus Incredible Years).

 

Marta Costa e Karine Paniza

 

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