Estudantes voltam a pedir a palavra 54 anos depois

Nas comemorações do 17 de abril de 69, dia que marcou o início da crise Académica, o presidente da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra pede mais representatividade nos órgãos de governação das universidades.

AB
Ana Bartolomeu
KP
Karine Paniza
17 abril, 2023≈ 3 mins de leitura

© UC l Ana Bartolomeu

"Se há 54 anos anos pedimos a palavra, 54 anos depois ainda não a temos, pelo menos, não como deveríamos ter". As palavras são do Presidente da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), João Caseiro, na invocação do 17 de abril de 1969. “Temos liberdade para falar, para intervir, mas não nos é conferido o devido peso para que a nossa palavra seja tida realmente em conta”, lamentou João Caseiro, referindo-se ao Regime jurídico das instituições de Ensino Superior (RJIES).

Hoje, os estudantes exigem a revisão do RJIES, "documento que condiciona o poder da palavra dos estudantes". “É um constrangimento à real representatividade na gestão e nas decisões das instituições de Ensino Superior", apontou João Caseiro. Aproveitando a ocasião, o presidente da Direção-geral da AAC entregou ao Secretário de Estado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira, “um RJIIES rasurado, com os contributos e propostas” dos estudantes para a revisão do documento legal.

“Hoje, felizmente, os estudantes têm voz, não terão porventura a representatividade que gostariam de ter nalguns aspetos”, admite o Secretário de Estado. Pedro Nuno Teixeira, consciente da importância desta “voz”, garante que a questão vai ser debatida aquando da revisão do RJIES. O próprio defende uma “uma representação significativa de estudantes nos órgãos de gestão das instituições de ensino superior” por que “os estudantes são o centro da universidade”.

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Eis o que pode fazer:

Mesmo sem ter ainda lido as propostas feitas pela AAC ao Secretário de Estado, o Reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, apoia o documento. “Considero que a representatividade deve ser maior e devemos incorporar as ideias e as ambições da juventude nas nossas decisões”.

“Numa universidade como a UC é muito importante ter uma Direção-geral [da AAC] ativa, pujante, reivindicativa e crítica”, defende Amílcar Falcão, “nós devemos saber ouvir e fazer o melhor possível para que vocês [estudantes] se sintam em casa”. “Que continuemos com uma academia irreverente, atenta e interventiva”, concluiu Amílcar Falcão.

A recordar o dia 17 de abril de 69, que marcou o início da crise Académica, esteve o presidente da Direção-geral da AAC à época, Alberto Martins. Lembrou o medo em que se vivia, os riscos que se colocavam, mas enalteceu a coragem e a força dos estudantes que lutaram pela liberdade e pela igualdade.

“O passado só se merece se fizer parte de um projeto de futuro”, defende o antigo presidente da Direção-geral da AAC, admitindo que, apesar de diferentes, os desafios de hoje não são mais fáceis. “Costumo dizer que quando os meus amigos estudantes, mulheres e homens, lutam, é o futuro que se levanta. Por isso, que o futuro se levante”, apelou emocionado.

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