Estudo internacional sugere que há no mundo mais de mil milhões de pessoas obesas

Esta investigação, publicada na revista "The Lancet" e com a participação da Universidade de Coimbra, analisou o índice de massa corporal para compreender como a obesidade e o baixo peso mudaram em todo o mundo entre 1990 e 2022.

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Sara Machado (FCTUC)
01 março, 2024≈ 5 mins de leitura

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Um estudo internacional em que participam Cristina Padez, Daniela Rodrigues e Aristides Machado-Rodrigues, investigadores do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), sugere que há mais de mil milhões de pessoas no mundo que vivem atualmente com obesidade.

De acordo com esta investigação, publicada na revista The Lancet, estas tendências, juntamente com o declínio da prevalência de pessoas com baixo peso desde 1990, fazem da obesidade a forma mais comum de desnutrição na maioria dos países.

«A análise dos dados globais estima que entre as crianças e adolescentes do mundo, a taxa de obesidade em 2022 era quatro vezes superior à taxa de 1990. Em Portugal, em 2022, a prevalência de obesidade em crianças e adolescentes era de 6% nas meninas e 9% nos rapazes. Entre os adultos, a taxa de obesidade mais do que duplicou nas mulheres e quase triplicou nos homens. No total, 159 milhões de crianças e adolescentes e 879 milhões de adultos viviam com obesidade em 2022», revelam os coautores do estudo, acrescentando que, em Portugal, a prevalência de obesidade nas mulheres era de 23% e nos homens de 22%, nesse ano.

Entre 1990 e 2022, a proporção de crianças e adolescentes do mundo que foram afetados pelo baixo peso diminuiu cerca de um quinto nas raparigas e mais de um terço nos rapazes. Em Portugal, o valor de baixo peso/magreza foi de 1% nas meninas e 3% nos rapazes, em 2022. A proporção de adultos em todo o mundo que foram afetados pelo baixo peso/magreza baixou para mais de metade durante o mesmo período. Em Portugal, nesse mesmo ano, os valores foram de 2% nas mulheres e nos homens.

Como explicam os investigadores do CIAS, «a obesidade e o baixo peso são formas de desnutrição e são prejudiciais à saúde das pessoas de várias maneiras. Este último estudo fornece uma imagem altamente detalhada das tendências globais em ambas as formas de desnutrição nos últimos 33 anos».

«É muito preocupante que a epidemia de obesidade, que era evidente entre adultos em grande parte do mundo em 1990, se reflita agora em crianças e adolescentes em idade escolar. Ao mesmo tempo, centenas de milhões de pessoas ainda são afetadas pela subnutrição, especialmente em algumas das partes mais pobres do mundo. Para combater com sucesso ambas as formas de desnutrição, é vital melhorar significativamente a disponibilidade e o preço acessível de alimentos saudáveis e nutritivos», alerta o professor Majid Ezzati, do Imperial College London, autor sénior deste artigo.

Foram mais de 1500 os investigadores que contribuíram para este estudo, que analisou o índice de massa corporal (IMC) para compreender como a obesidade e o baixo peso mudaram em todo o mundo entre 1990 e 2022. Os investigadores analisaram medidas de peso e altura de mais de 220 milhões de pessoas com cinco anos ou mais (63 milhões de pessoas com idades entre cinco e 19 anos e 158 milhões com 20 anos ou mais), representando mais de 190 países.

«Os adultos foram classificados como obesos se tivessem IMC maior ou igual a 30kg/m2 e classificados abaixo do peso se o IMC fosse inferior a 18,5kg/m2. Entre crianças em idade escolar (cinco a nove anos) e adolescentes (10 a 19 anos), o IMC utilizado para definir obesidade e baixo peso depende da idade e do sexo, pois há aumento significativo de altura e peso durante a infância e a adolescência», concluem.

Este novo estudo foi conduzido pela NCD Risk Factor Collaboration (NCD-RisC), em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para além dos investigadores da FCTUC, participaram também Anabela Mota-Pinto, Luísa Mavieira e Lélita Santos da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e do Centro Hospitalar de Coimbra (CHUC).

O artigo científico pode ser consultado aqui.