Investigadores apostam no desenvolvimento de equipamento para deteção de lixo espacial low cost

As câmaras low cost já foram testadas da terra para o espaço com o objetivo de perceber se são capazes de detetar o rasto deixado pelos satélites, que é muito semelhante ao lixo espacial, e os resultados são bastante promissores.

SF
Sara Machado - FCTUC
18 dezembro, 2023≈ 4 mins de leitura

Da esquerda para a direita: Paulo Gordo (Synopsis Planet e Centra), Joel Filho (doutorando do DF, IA e Centra), e Nuno Peixinho (IA e DF)

© DR

Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a desenvolver um equipamento low cost (baixo custo, em português) que permitirá detetar o lixo espacial.

O projeto “Algoritmos de detritos espaciais em imagens de constelações de satélites para a caracterização e determinação orbital de detritos”, de Joel Filho, estudante de doutoramento em Engenharia Física no Departamento de Física (DF) da FCTUC, acaba de vencer uma bolsa da Agência Espacial Europeia (ESA) no valor de 90 mil euros.

«Estamos a desenvolver um método para identificar e caracterizar o lixo espacial em imagens, baseado em algoritmos de deteção de open source (código aberto, em português) e determinar as suas órbitas para utilização a bordo de satélites, fazendo uso das imagens que estes utilizam para determinação da sua orientação no Espaço, imagens essas que não podem ser armazenadas, mas das quais se extrairão informações relativas aos detritos espaciais antes de serem apagadas», revela Joel Filho.

A crescente concentração de lixo espacial apresenta um risco cada vez maior para as atividades espaciais. Atualmente, sabe-se eu há cerca de 35 mil objetos com mais de 10 centímetros (cm) de diâmetro a orbitar a Terra, sendo que são apenas conhecidas as órbitas de cerca de 90% deles, havendo também cerca de um milhão, com tamanhos entre 1 e 10 cm, quase todos por catalogar, e estima-se que existem ainda cerca de 130 milhões de objetos, entre 1 mm e 1 cm, por rastrear.

De acordo com Nuno Peixinho, investigador do DF e do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), «é precisamente por estas razões que o estudo do lixo espacial é hoje, e cada vez mais, uma área prioritária nas ciências do espaço, e a FCTUC também está envolvida nisso», afirma, explicando que «os atuais radares e telescópios óticos terrestre, usados para deteção e rastreamento de lixo espacial, estão limitados pela sua sensibilidade, implicando limites de tamanho baixos para os detritos, fornecendo um catálogo com uma muito pequena quantidade do total. Além disso, é difícil obter informações precisas sobre a localização orbital destes objetos».

Assim, a ideia é desenvolver um equipamento constituído por minicomputadores com câmaras de baixo custo, e o algoritmo de deteção que está a ser desenvolvido pelo estudante de doutoramento. As câmaras low cost já foram testadas da terra para o espaço com o objetivo de perceber se são capazes de detetar o rasto deixado pelos satélites, que é muito semelhante ao lixo espacial, e os resultados são bastante promissores.

Esta investigação está a ser desenvolvida sob a orientação de Nuno Peixinho, Paulo Gordo, da empresa Synopsis Planet e do CENTRA, e Rui Melício da Universidade de Évora. Joel Filho irá realizar uma fase do seu projeto de tese no Centro Europeu de Operações Espaciais (ESOC) da ESA, em Darmstadt, Alemanha, onde terá a oportunidade de trabalhar diretamente com Tim Flohrer, diretor do Gabinete de Lixo Espacial (Space Debris Office) da ESA.