SCUC 2023 - Caravana Salatina, uma homenagem ao património feito de pessoas
A performance é "uma viagem" pela história dos Salatinas, inserida na Semana Cultural da UC 2023.
Rafael Vieira é jornalista, com formação base em arquitetura. Com "a história presente", de um bisavô e uma avó Salatinas, achou "interessante invocar um tema que envolvesse comunidade e história". "Não o tinha explorado em detalhe e fui à procura de material". No ano em que se assinalam dez anos da classificação da Universidade de Coimbra: Alta e Sofia como Património Mundial da Humanidade, "alguns dos edifícios reconhecidos como património, têm um passado de destruição. Acho que é o momento perfeito para contar [as histórias]", acredita.
Mas o que são afinal os Salatinas? Uma questão que ainda hoje pode ser difícil de responder, com as divisões em núcleos da Alta de Coimbra. Há quem diga que se chama Salatina a quem morava no local e que, por altura do Estado Novo, "foi afastado". "Houve uma dispersão forçada de pessoas e famílias inteiras", com a construção da Alta Universitária, explica Rafael Vieira. Os Salatinas podem então ser "um grupo de pessoas que perdeu a casa na Alta", mas que, ao mesmo tempo, levaram a sua tradição consigo, conta. Como no bairro de Celas, um dos locais para onde foram, onde as ruas mantêm os mesmos nomes. "As pessoas levaram consigo objetos, e reconstruíram os seus bairros". "É muito importante contar esta história", acredita o jornalista.
Foi a partir da pesquisa de Rafael Vieira que Vânia Couto aproveitou o tema da Semana Cultural da Universidade de Coimbra, Horizontes e construiu o que se tornou uma performance diferente. A Caravana Salatina convidou o público a percorrer e a conhecer as histórias das pessoas e dos espaços. Dos Salatinas.
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Eis o que pode fazer:
Percorrer "espaços inusitados" por toda a zona da Alta, num itinerário de caravana que mostra também um pouco da história dos Salatinas. Foi então a proposta da Associação Catrapum para a Semana Cultural da Universidade de Coimbra 2023. Vânia Couto revela que "esta população [de Salatinas] tem uma riqueza enorme". E é "na primeira voz" que se vão contar as histórias da Milu, do Flávio barbeiro, um dos primeiros compositores do fado de Coimbra, da Ana da Venda, das lavadeiras e das tricanas ou dos estudantes. "Quando os estudantes vinham para a cidade, eram os salatinas que cuidavam deles e havia uma grande amizade entre todos", conta. "Quando descobri estas histórias, pensei que era preciso falar sobre elas, e a oportunidade surgiu com a Semana Cultural da UC", acrescenta Vânia Couto.
"Estas pessoas são este património histórico e cultural que reflete a questão da democracia, o respeito pela habitação, e isso é muito importante", defende. A Caravana Salatina acaba assim por ser "uma homenagem" a esta população e percorre um caminho que conta um pouco destas histórias, com fotografias, plantas das habitações. "Percorremos a Sofia, vamos até à Alta, e falamos um pouco dessas casa, e a ideia é contar na primeira voz sobre as pessoas que estão ou estiveram ali", revela Vânia Couto.
Conheça a programação completa da Semana Cultural da Universidade de Coimbra 2023 em www.uc.pt/semanacultural
Caravana Salatina, Além do Firmamento | Performance
Uma performance numa caravana, onde o público viajará entre a Alta e a Sofia, numa experiência sensorial de olhos vendados, para ver além do tempo e do firmamento. Retratam-se os Salatinas dos anos 40, a população da Alta antes de uma cidade universitária. O tempo passa através dos sentidos, ouvem-se guitarras dos anos 70, o som dos Colégios e Faculdades, numa cidade entre o antes e o depois da Universidade. Mas será que é mesmo o que se vê e ouve? Só o público da Caravana Salatina o poderá saber. Com paragem em três estações, performáticas, com regresso à Sofia.
Uma produção da Associação Catrapum com a participação de Vânia Couto, Nilce Vicente Carvalho, Constança Ochoa, Luísa Levi, Alex Lima, Jorgette Dumby, Lais Salles, Rafael Vieira, Salão 40, Kathi Baab.