Mimesis 2023 - Museu Móvel das Memórias Perdidas

A performance desfilou pelas ruas da Baixa da cidade. No final, foi instituído o Dia Mundial das Memórias Perdidas.

AB
Ana Bartolomeu
MC
Marta Costa
15 junho, 2023≈ 3 mins de leitura

© UC l Ana Bartolomeu

Almoçar com o avó no restaurante Zé Neto e encontrar sempre "um senhor gigante, embrulhado num grande avental, que nos trazia arroz de tomate”. É esta a primeira memória que Carla Gomes recorda da Baixa de Coimbra. Lu Lessa Ventarola, brasileira a residir em Coimbra, lembra “uma memória muito preciosa das andorinhas anunciando o verão e das flores amarelas anunciando a primavera”.

Estas e outras memórias foram partilhadas pelas ruas da Baixa “como se fosse uma grande Babel de palavras”, conta o curador do Museu Móvel das Memórias Perdidas, Nelson Ricardo Martins.

“Todos somos um museu, a nossa mente é uma reserva técnica e as memórias são os acervos”, explica. Numa época em que há um “esvaziamento das pessoas”, recordar momentos passados tem o poder de “criar uma identidade mais forte e uma visão mais empoderada em relação à vida”.

Apaixonado pela Baixa, Nelson Ricardo Martins quis “trazer vida” ao centro histórico da cidade. O Museu Móvel partiu da Praça do Comércio e ocupou várias ruas com ações performáticas sonoro-visuais, numa tentativa de “conectar” as memórias dos espaços arquitetónicos com “as memórias faladas”. Dezenas de pessoas, munidas de coloridos adereços, desfilaram num ritmo animado pela percussão de bombos e tambores. No final do percurso, no Largo do Poço, um microfone convidava participantes e moradores a partilhar recordações, histórias ou poemas.

A performance terminou com a instituição do Dia Mundial das Memórias Perdidas. A ideia é que a 14 de junho “se faça alguma coisa em Coimbra para resgatar memórias que estão por aí”.

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Eis o que pode fazer:

Inserida na 4.ª edição do Ciclo de Teatro e Artes Performativas Mimesis da Universidade de Coimbra (UC), a iniciativa pretende também alertar para o “elitismo” dos museus que “geralmente são caros”, aponta Nelson Ricardo Martins. O artista, também aluno de doutoramento em Arte Contemporânea no Colégio das Artes da UC, desenvolve trabalhos sobre a memória desde a década de 80. O Museu Móvel das Memórias Perdidas surge de um projeto anterior, que decorreu também no centro histórico, chamado “Cabine da Palavra”, onde “as pessoas falavam da relação delas com a Baixa”.

Conheça a programação completa do Ciclo de Teatro e Artes Performativas Mimesis da Universidade de Coimbra em www.uc.pt/cultura/mimesis

Museu Móvel das Memórias Perdidas | Performance


O projeto busca desenvolver a ideia do museu como apropriação de todos, fundindo a realidade da cidade. O espaço museológico encontra-se dentro das pessoas; a reserva técnica nas mentes e o coração constitui a energia motriz. O Museu Móvel das Memórias Perdidas, idealizado pelo artista visual e curador Nelson Ricardo Martins, constitui-se numa proposta que se enquadra no âmbito das linguagens híbridas associadas ao campo das artes visuais contemporâneas, conjugando performance, instalação e poesia visual, em interfaces que busquem ampliar reflexões acerca do arcabouço imagético constitutivo das pessoas.

Organização: Nélson Martins c/ Colégio das Artes da UC e Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC)

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