Morreu o jornalista Max Stahl que registou o massacre de Santa Cruz em Timor-Leste

O jornalista tinha uma relação próxima com a Universidade de Coimbra. A UC alberga o arquivo do Centro Audiovisual Max Stahl de Timor-Leste, fruto de uma parceria estabelecida em 2016.

MS
Milene Santos
28 outubro, 2021≈ 4 mins de leitura

© UC | François Fernandes

O jornalista britânico e repórter de guerra, Christopher Wenner, mais conhecido como Max Stahl, faleceu esta quarta-feira, hora portuguesa, num hospital da cidade australiana de Brisbane (04h30, hora local, já dia 28 de outubro), vítima de doença prolongada.

Nascido a 6 de dezembro de 1954 no Reino Unido, ficou conhecido como o jornalista que filmou o massacre, no cemitério de Santa Cruz, em Díli, Timor-Leste. O momento mudou para sempre o percurso da luta pela independência daquele país.

Em 1991, e mesmo com a vida em risco, Max Stahl, não parou de filmar os horrores que se viviam no cemitério de Santa Cruz e chegou mesmo a ter de esconder as cassetes com as suas filmagens dentro de uma vala, já que era a única forma de as proteger. Foi apanhado pelas tropas indonésias, e mesmo nesses momentos, continuou sempre a filmar. Como relata o próprio “quando os indonésios começaram descaradamente a matar, a esfaquear, a bater, claro que eu tinha que filmar, e para mim não era uma escolha”. As imagens do massacre correram o mundo.

Em 1999 regressou a Timor, e é nessa altura que adotou o nome de Max Stahl, por razões de segurança. No ano seguinte, recebeu o Rory Peck Award, um prémio atribuído a operadores de câmara freelancer que colocam a vida em risco em reportagem. Este foi apenas um dos muitos prémios que lhe foram concedidos devido ao seu trabalho em zonas de conflito (Balcãs, El Salvador, entre outros).

Max Stahl criou, em Timor, o Centro Audiovisual Max Stahl em Timor-Leste (CAMSTL) onde estão guardados os seus arquivos com as imagens que captou ao longo dos últimos 25 anos. Esse arquivo foi considerado pela UNESCO como Registo da Memória do Mundo.

O Centro Audiovisual Max Stahl Timor-Leste está instalado na Universidade de Coimbra (UC), tendo sido apresentado publicamente numa cerimónia em 2019 (notícia aqui). O tratamento do acervo é objeto de um protocolo assinado em dezembro de 2016, entre a UC, a Universidade Nacional de Timor-Leste e o Centro Max Stahl. O arquivo, que funciona como uma réplica sincronizada do arquivo original localizado em Díli, está acessível em www.uc.pt/camstl.

Max Stahl, referiu, na altura, que a parceria com a UC se constituía como uma “questão de sustentabilidade” e uma parte fundamental para a preservação do arquivo.

O repositório online conta com mais de 5000 horas de gravações, às quais acrescem cerca de 400 horas por ano, e regista a história de Timor-Leste. As imagens icónicas do massacre de Santa Cruz, episódio que permitiu mostrar ao mundo as condições da ocupação de Timor-Leste pela Indonésia, são uma das riquezas do vastíssimo espólio de vídeos e outros documentos.

A Universidade de Coimbra manifesta profundo pesar pelo falecimento de Max Stahl. "É uma figura de primeira importância na história recente de Timor, a mais recente nação lusófona para cujo nascimento ele deu um contributo absolutamente determinante, através do seu trabalho jornalístico. Como fiel depositária do Arquivo Max Stahl, a UC tudo fará para valorizar esse legado, para enriquecê-lo com novas informações e promover a sua disseminação, segundo um plano que havia sido gizado com o próprio Max Stahl e que, em 2022, ano em que Timor celebra 20 anos como nação, irá conhecer um decisivo impulso", destaca o Vice-Reitor para a Cultura e Ciência Aberta da UC, Delfim Leão.

Entrevista Max Stahl - Universidade de Coimbra

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A Língua, a Luta, a Nação: filme de Max Stahl sobre a língua portuguesa em Timor-Leste

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