Mulheres da UC na Ciência: Sílvia Portugal

A investigadora do Centro de Estudos Sociais e docente na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Sílvia Portugal, é a convidada de abril da rubrica Mulheres da UC na Ciência.

AB
Ana Bartolomeu
MC
Marta Costa
01 abril, 2024≈ 3 mins de leitura

© UC l Ana Bartolomeu

“Costumo dizer que desde pequenina que quero ser socióloga”, conta a investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Sílvia Portugal. O interesse surgiu ainda na infância, quando estudava numa escola nos subúrbios de Lisboa. “Para mim era muito gritante as diferenças entre as pessoas, entre as meninas e os meninos e entre as classes sociais, isso impactou-me.”

Apesar de ter uma formação toda ela na área da Sociologia, desde a licenciatura ao doutoramento, Sílvia Portugal considera-se uma investigadora “muito interdisciplinar”. Dedica-se a estudar o binómio igualdade/desigualdade, mas em temáticas “marginais”, isto é, que “não têm grande tradição de ser tratadas pela Sociologia”.

Começou por trabalhar as redes sociais (redes de interação face a face e não digitais), nomeadamente os cuidados das crianças. Na tese de doutoramento abordou “as redes de apoio familiar e as redes de solidariedade, com uma ênfase muito específica nas mulheres.” Mais recentemente, Sílvia Portugal dedica-se às questões relacionadas com a deficiência e a doença mental.

A carreira de investigadora é levada em paralelo com a de professora na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC). "Sou melhor docente por fazer investigação e sou melhor investigadora por ser docente", defende. Sílvia Portugal enfatiza também os benefícios e as aprendizagens que retira na orientação de teses de doutoramento.

Esta aproximação com os jovens faz com que olhe para a área das Ciências Sociais com preocupação. Sílvia Portugal vê que a juventude carrega indevidamente "um peso individual sobre o seu presente e o seu futuro". "O facto de os jovens não terem emprego ou terem de migrar por falta de saídas profissionais não é uma responsabilidade individual, não é uma questão de sucesso ou insucesso pessoal, é sim resultado de um País que tomou o caminho político que tomou."

Para a investigadora, faz falta olhar para a dimensão coletiva que também tem responsabilidade sobre os fenómenos que a sociedade experiencia hoje em dia. "Olhar para essa dimensão coletiva é o que interessa à Sociologia e é por esse olhar que eu tenho vindo a trabalhar, é uma questão científica mas é também uma questão política", defende. Os sociólogos trabalham "para uma sociedade melhor, mais justa, mais crítica. São estas as bandeiras do meu trabalho", conclui.

Doutorada em Sociologia pela Universidade de Coimbra, Silvia Portugal é professora associada da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES). O seu trabalho de investigação tem usado a teoria das redes para discutir as relações entre sistemas formais e informais de produção de bem-estar. Neste âmbito, tem pesquisado sobre a importância da família no sistema de protecção social português, dando especial destaque ao papel das mulheres.

Os seus interesses de investigação e pesquisas mais recentes centram-se nas temáticas da deficiência, da doença mental, da cronicidade e do cuidado. Editou Cidadania, Políticas Públicas e Redes Sociais (2011); Doença Mental, Instituições e Famílias; Os desafios da desinstitucionalização em Portugal, com Pedro Hespanha et al. (2012); Famílias e Redes Sociais. Ligações Fortes na Produção de Bem-estar (2014); Experiência, Saúde, Cronicidade: um olhar socioantropológico, com Reni Barsaglini e Lucas Melo (2021) e A Saúde Reiventada: Novas perspectivas sobre a medicalização da vida, com Tiago Pires Marques (2021).