Histórias para refletir sobre a fuga de cérebros

Docente da UC lidera o estudo multidisciplinar que vai apresentar resultados a 18 de setembro, no Porto

17 setembro, 2015≈ 5 mins de leitura

© UC | Marta Costa

São cada vez mais os jovens qualificados que saem de Portugal para tentar a sorte no estrangeiro. Em 2008, surgiam as primeiras notícias da emigração qualificada, que coincidiram com a crise económica vivida no país. O investigador do Centro de Estudos Sociais (CES), Rui Gomes, já tinha trabalhado com o fenómeno do “Brain Drain” – ou o escoar dos cérebros – mas com a saída do próprio filho para Londres, no Reino Unido, considerou que “era preciso deixar uma memória científica bem informada e detalhada sobre o fenómeno e sobre as experiências dos emigrantes qualificados que estavam a sair”. Depois de mais de mil questionários e cerca de 55 entrevistas biográficas, a “Fuga dos Cérebros” vai agora mostrar publicamente os resultados, numa conferência internacional.

Era preciso deixar uma memória científica bem informada e detalhada sobre o fenómeno

O projeto de investigação “Êxodo de competências e mobilidade académica de Portugal para a Europa”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, está a ser realizado por uma equipa multidisciplinar, liderada por Rui Gomes, e junta a Universidade de Coimbra (UC), do Porto e de Lisboa, bem como quatro centros de investigação. Os resultados vão ser apresentados numa conferência a realizar a 18 de setembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Rui Gomes conta que, no estudo, estão presentes as áreas da “sociologia, educação e economia”. Mas o que o motivou foi, não apenas a “curiosidade científica mas também uma motivação muito vinculada à amargura social as pessoas que estavam a sair sentiam”, explica o docente e investigador da UC.

Os investigadores estudaram quatro grandes grupos e as entrevistas foram feitas “em profundidade a emigrantes qualificados com características diferentes”. “Desde profissionais qualificados que foram trabalhar em áreas qualificadas e bem renumerados”, Rui Gomes conta que foram ainda entrevistados emigrantes que “estando desempregados em Portugal e obtendo emprego no país de acolhimento – mesmo com rendimento superior – foram trabalhar em áreas do mercado abaixo das suas qualificações”. Os emigrantes “transitórios ou pendulares” e os que “tomam como impulso um programa de mobilidade académica” feito anteriormente completam os “quatro grandes casos” estudados e captados “quer nas entrevistas quer nos questionários”, completa o responsável.

As consequências da “Fuga de Cérebros” de Portugal para a Europa – e para o mundo – são pesadas. Rui Gomes refere “desde logo, uma consequência económica direta, que diz respeito à não utilização do investimento do país e das famílias”. “Acrescentamos as consequências demográficas”, continua o docente da UC. “A acrescentar ao envelhecimento do país, temos a questão demográfica porque estes emigrantes são jovens”. O responsável conta que “a esmagadora maioria” da amostra do estudo concentrou-se “justamente entre os 24 e os 39 anos”. Existe ainda uma consequência nas expectativas criadas nas famílias e nos potenciais candidatos ao Ensino Superior “por verificarem que o diploma perdeu o valor no mercado de trabalho interno”, lamenta Rui Gomes. Uma perda que “é intensificada pela ideia de que as pessoas têm de sair do país para verem realizados os seus objetivos de realização profissional e de motivação humana que os levou a estudar”.

 

Conferência internacional apresenta resultados do estudo

O livro “Fuga de cérebros: retratos da emigração portuguesa qualificada”, editado pela Bertrand, junta 20 retratos, dos 55 que foram entrevistados para o projeto. O objetivo era fazer um retrato de cada um dos “cérebros”, “desde a sua origem social, o seu percurso académico e profissional, às influências díspares que estiveram presentes na decisão de emigrar”, desvenda Rui Gomes. A obra vai ser lançada durante a conferência e vai estar nas livrarias a 2 de outubro. Simultaneamente, a Imprensa da UC vai também lançar um livro electrónico, mais longo, com os restantes retratos sociológicos. “Entre a Periferia e o Centro, trajetos de emigrantes portugueses qualificados” vai estar acessível ao público através da Imprensa da UC, revela o responsável.

Durante a conferência, pretende-se promover uma discussão comparada com casos internacionais. Estão já confirmadas as presenças de Jean-Baptiste Meyer (Montpellier, França) e Wendy Hansen (Maastricht, Holanda), bem como de representantes de diversas associações de emigrantes portugueses (como a ASPPA – Alemanha, a AGRAf – França ou a PARSUK – Reino Unido).

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