Mimesis 2022: Grupo de Teatro Terapêutico apresenta o espetáculo "clepsidra"

A produção vai estar em exibição dia 3 de junho, às 17h00, no Teatro Paulo Quintela, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

MS
Milene Santos
01 junho, 2022≈ 4 mins de leitura

"clepsidra" é um projeto de investigação-ação teatral do Grupo de Teatro Terapêutico do Hospital Júlio de Matos, atual Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, na tentativa de encontrar uma definição para o conceito de "tempo". Trata-se da proposta do Grupo para a 3.ª edição do ciclo de Teatro e Artes Performativas Mimesis, que está a decorrer até ao próximo dia 15 de junho. A produção subirá ao palco do Teatro Paulo Quintela, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no próximo dia 3 de junho, pelas 17h00.

"clepsidra" não é um objeto artístico concluído, mas sim o ponto de partida para uma discussão aberta a todos os que nela quiserem participar, é desta forma que a produção se define. Segundo as palavras do encenador André Carvalho, "podemos afirmar, sim, que clepsidra é uma fase do processo criativo que nós decidimos abrir e partilhar com a comunidade". "De acordo com a metodologia do Grupo de Teatro Terapêutico, os nossos textos teatrais são um dos vários resultados das sessões terapêuticas que temos com os nossos utentes. No fundo, queremos envolver a comunidade no processo criativo muito mais cedo: não apenas quando está tudo pronto, nas conversas depois dos espetáculos serem apresentados", avança o encenador e acrescenta que o se pretende é que a comunidade possa ouvir e ver o que se está a fazer agora: "que fique a conhecer quais os caminhos que percorremos e as decisões que tomámos até à data, que discuta e partilhe a sua opinião connosco — para, depois, integrarmos tudo num novo texto que dê origem a um espetáculo de teatro que seja uma reflexão realmente conjunta sobre as temáticas abordadas".

Sobre as temáticas que estarão em palco, André Carvalho esclarece que "o ponto de partida foi uma discussão sobre a dicotomia obediência/desobediência, o que nos levou a inúmeros materiais e conteúdos". "Lemos o mito de Ícaro, por exemplo", revela o encenador. "Incentivados pela nossa participação no ciclo Mimesis, também explorámos conceitos como «tempo» e «memória». Hamlet também surgiu nas nossas conversas. Podem parecer temas muito díspares e desconexos, mas à medida que avançamos e o processo amadurece encontramos cada vez mais elos entre os vários assuntos", refere.

"clepsidra" não se define como um espetáculo de teatro fechado, razão pela não lhe está associada uma estrutura definida. André Carvalho avança que "de modo muito abstrato, a estrutura de um espetáculo determina as regras do jogo teatral e, daí, as várias relações que se estabelecem (sejam elas entre atores, dos atores para os espectadores e entre o próprio público). Serve para «proteger» cada um dos intervenientes, pois normalmente cada um dos papéis está muito bem definido (a não ser que o jogo seja outro, mas isso é outra conversa)". "Nós vamos a Coimbra sem nada disso, sem máscaras e artifícios. Sentimo-nos como os primeiros exploradores em terras desconhecidas, vamos à aventura.", remata o encenador.

Conheça a programação completa do ciclo Mimesis em uc.pt/cultura/mimesis.

Grupo de Teatro Terapêutico do Hospital Júlio de Matos


O Grupo de Teatro Terapêutico do Hospital Júlio de Matos (GTT), atual Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, foi criado em 1968, e ao longo destes 43 anos foram apresentadas ao público cerca de 23 peças de teatro nalgumas das melhores salas do país, com um elenco totalmente constituído por pessoas com experiência de doença mental, sem nunca descurar a qualidade das produções teatrais, conta com a colaboração de técnicos profissionais das diferentes áreas.

O GTT possui por natureza características pouco comuns, uma vez que conjuga um aspeto artístico/cultural, (confirmado pelo público e pela vasta exposição mediática), com uma vertente terapêutica, comprovada pelos trabalhos científicos (nacionais e estrangeiros) escritos sobre o Grupo.Esta particularidade confere-lhe um papel importante ao nível da intervenção social, onde é necessária uma atitude de sensibilização e educação do público que ajude a reduzir o estigma e a descriminação em relação às pessoas com doença mental.

(fonte: página de Facebook do GTT: aqui)

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